Economia

Levy diz a empresários que ajuste fiscal é duro, mas cria oportunidades

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta sexta-feira, 29, que os preços relativos da economia brasileira têm se adaptado, incluindo o câmbio, que sofreu grande desvalorização neste início de 2015. O ministro defendeu as medidas como importantes para o ajuste da economia.

“Estamos no momento em que temos enormes oportunidades. São desafios, mas oportunidades. E o governo certamente tem tomado medidas para isso (vencer desafio). Houve realinhamento de preços, o que não é fácil, mas o governo fez”, disse.

Além disso, o ministro reconheceu que, na conjuntura atual, o mercado de trabalho desacelerou. O desafio, neste contexto, é recolocar o País em uma trajetória de criação de empregos.

“Poucas economias têm as vantagens do Brasil, nossa demografia é favorável. Numa situação um pouco menos fácil, a gente tem de se organizar. A criação de empregos é um dos principais desafios”, disse Levy.
Levy: Banco Central tem que permanecer vigilante, tendência é de preços subirem.

“Vigilante”

Levy voltou a falar que o Banco Central deve permanecer vigilante diante de uma tendência de curto prazos de possível alta de preços, uma vez que o governo, disse Levy, não quer pressão inflacionária. “O Banco Central tem permanecido vigilante e tem tido sucesso nisso”, completou.

O ministro ainda reconheceu que a relação da dívida com o PIB voltou a subir desde 2012, “em particular no ano passado”. “Nossa dívida é alta comparada à de vizinhos”, disse. Ele afirmou ainda que o governo agora persegue uma taxa de superávit primário que recoloque a trajetória da dívida em queda.

Segundo ele, o ano passado foi atípico no que diz respeito ao déficit primário. Agora, o governo trabalha para promover mudanças estruturais que, por fim, contribuam com a geração de emprego e com a melhora da conta previdenciária. A adoção de tarifas “realistas” é fundamental para orientar a economia, disse.

O governo da presidente Dilma Rousseff é alvo de críticas por promover medidas para segurar os preços da energia elétrica e dos combustíveis, o que teria prejudicado a capacidade de investimento da Petrobras e da Eletrobras e ainda interferido na concorrência interna.

Segundo Levy, com a prática de preços realistas, as empresas serão obrigadas a ter a produtividade como meta e, em sua opinião, “aumentar a produtividade é extremamente importante” e garantiria, no médio prazo, a melhora dos salários.

Gastos versus receitas

O ministro ainda comentou que há divergência entre gastos públicos e receitas. “Houve declínio na receita federal nos últimos anos, são R$ 70 bilhões a menos, enquanto houve aumento importante de despesas”. Esse risco fiscal, continuou o ministro, é um dos maiores obstáculos para as empresas e o objetivo do governo é reduzir isso. “O risco Brasil ainda é elevado”, acrescentou.

A divergência, disse, também afeta a Previdência Social, que sofre efeito cíclico de tendência de alta na despesa e redução da receita. “O déficit da previdência é sistemático. O governo tem de prestar atenção nisso, principalmente quando há discussão sobre a desoneração da folha de pagamento”, disse Levy.

Clareza

O ministro da Fazenda afirmou que existe atualmente “clareza e propósito na economia” brasileira. Citou a intenção da presidente Dilma Rousseff de “estabelecer e lutar por um plano de equilíbrio fiscal”. Com a aprovação de três medidas provisórias pelo Congresso – entre elas a 664 e a 665, citadas diretamente por ele – foi possível “evitar uma situação custosa” para o País, disse. Ainda assim, conforme o ministro, há desafios que ultrapassam a esfera nacional. “Nossos principais parceiros também mudaram políticas”, o que teria motivado mudanças no Brasil.

E que a economia, num período de ajuste, “sempre sofre alguns impactos”. “Temos visto o desemprego aumentando um pouco”, disse. Apesar disso, ele garantiu que o governo está comprometido em aprovar medidas legislativas relacionadas ao ajuste fiscal. “Temos de tomar medidas enérgicas para evitar que economia entre num período maior de recessão”.

Uma das possibilidades de reorganização da economia, segundo Levy, é o crédito imobiliário. Manter esse tipo de crédito, segundo Levy, é uma prioridade, mas o uso da caderneta de poupança para esse fim “atingiu o seu limite”.

“O Brasil venceu muitas etapas e agora é hora de avanços estruturais”, reforçou. O setor da agricultura – que terá o Plano Safra apresentado pela presidente Dilma Rousseff na semana que vem, também é um setor que deve ser alvo de reformas. “No financiamento da agricultura, olhando três anos à frente, o modelo atingiu seu limite”, disse Levy. “O Brasil tem de pensar além do modelo habitual de financiamento”, acrescentou.

Grau de investimento

Levy falou sobre a eventual perda do grau de investimento pela economia brasileira, lembrando que será ruim para as empresas e, consequentemente, para a capacidade de gerar emprego. “O trabalho do governo é baixar o risco do Brasil. O Brasil não pode regredir no risco de investimento. O Brasil também não pode regredir na retração da desigualdade”, falou. O ministro da Fazenda participou de almoço com empresários na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

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