Depois do anúncio da revisão da perspectiva da nota do Brasil pela Standard & Poors, a preocupação do governo agora é com o risco de as agências Fitch e Moodys seguirem o mesmo caminho.
Em conversas na terça-feira, 28, com investidores estrangeiros para tranquilizar o mercado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reafirmou o compromisso do governo com o controle de gastos e da trajetória da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB). À noite, o Ministério da Fazenda divulgou nota oficial reforçando as declarações de Levy.
Com mais uma notícia ruim para a economia, a avaliação que ganhou força no governo foi a de que a decisão da S&P pode fazer o Congresso “acordar” e aprovar as reformas necessárias o mais rápido possível. Levy reforçou nos contatos com os investidores a necessidade de apoio dos parlamentares às medidas de ajuste fiscal e de estímulo ao crescimento. O papel do Congresso para evitar o risco de perda do grau de investimento ficou mais em evidência, diante do relatório da S&P que apontou preocupações com as turbulências políticas no País.
Embora temida pela área econômica e até certo ponto esperada por causa da crise política associada ao baixo crescimento, a revisão da perspectiva da nota do Brasil surpreendeu pelo momento do anúncio. A equipe econômica não contava com um movimento da S&P “agora”. O governo recebeu a informação da S&P no fim da manhã.
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse esperar que o viés negativo de rebaixamento não se concretize. “Trabalhamos para melhorar a situação econômica do País”, disse o ministro, depois de conversas com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Levy não comentou a decisão.
Efeito contágio
A expectativa dada como certa na equipe do governo era a de um rebaixamento pela Moodys, o que colocaria a nota do Brasil na mesma situação da S&P. Uma missão da Moodys esteve no Brasil este mês para a avaliação da nota brasileira e, agora, o movimento da S&P pode contaminar a decisão. A Fitch já esteve no Brasil este ano, quando decidiu não mudar a nota, mas pode fazer uma revisão para seguir as concorrentes. Nenhuma agência se sente confortável quando fica muito atrás na avaliação do rating, o que alimenta uma “competição” entre elas. Para integrantes do governo, a S&P não quis ficar atrás da Moodys, que ainda terá de anunciar o resultado da sua revisão. “O risco de as outras seguirem é grande”, reconheceu uma fonte da área econômica. O governo vai trabalhar agora para evitar essa contaminação, buscando ampliar o diálogo ainda mais e tentando mostrar que há direção.
O que mais pesou na decisão da S&P foi a incerteza política do cenário brasileiro, que contamina as decisões do Congresso e agrava a crise de confiança na economia. A revelação de um quadro fiscal muito pior no curto e médio prazos, com a reprogramação fiscal de 2015-2018, foi a “gota dágua”. (Colaborou Rachel Gamarski) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.