A disputa pela obra que vai interligar as Represas de Jaguari e Atibainha, para reforçar o suprimento de água do Sistema Cantareira, em São Paulo, atrai um recorde de interessados. Até esta quarta-feira, 6, 14 propostas de 33 empresas tinham sido apresentadas para o empreendimento, que tem investimento previsto de R$ 830 milhões.
Normalmente, segundo a Sabesp, obras de grande porte, que exigem investimentos acima de R$ 500 milhões, atraem três ou no máximo quatro consórcios. De acordo com os dados eletrônicos da companhia, que fazem o registro histórico das licitações desde 2000, nunca tantas empresas brigaram por uma obra de abastecimento de água.
A atípica procura retrata o nível de estresse que tomou conta do mercado de obras pesadas no Brasil. De um lado, o ajuste fiscal já reduziu os repasses para alguns investimentos em obras públicas – e a tendência é de que os cortes se aprofundem. De outro, a Operação Lava Jato, que apura crimes de corrupção na Petrobras, lançou dúvidas sobre o futuro de 25 das maiores construtoras do País.
Isso fez com os bancos dificultassem a liberação de financiamentos para a maioria das empresas e ainda cobrassem bem mais caro daquelas que conseguem o crédito. O arrocho é tal que empresas importantes, como OAS, Engevix e Galvão Engenharia, donas de vultosos contratos de obras públicas e também de concessões, já pediram recuperação judicial.
O próprio presidente da Sabesp, Jerson Kelman, se preocupou com a situação das construtoras e o cenário do mercado. Inicialmente, propôs que fosse aberta uma licitação internacional, para atrair construtoras estrangeiras. A equipe técnica da companhia, no entanto, foi contra. “Contaram que não tiveram boas experiências com licitações internacionais, porque as estrangeiras enfrentaram dificuldades na hora de cumprir as exigências burocráticas dos órgãos do setor”, diz Kelman. Segundo advogados especializados em infraestrutura, ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, é praticamente impossível que estrangeiros assumam obras dessa natureza no Brasil sem se associar com empresas locais.
Kelman acatou a equipe. “Tivemos de fazer a escolha de Sofia: soltar uma licitação internacional e ver as estrangeiras não conseguindo cumprir a burocracia brasileira com a velocidade que precisamos ou fazer uma licitação convencional com o risco de, lá na frente, a ganhadora sofrer algum revés”, diz Kelman. “Optamos pelas locais e, ao menos, já sabemos que a licitação não vai dar vazia.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.