Sempre ouvi dizer que devemos aproveitar todas as oportunidades que a vida nos dá. E que as viagens servem para que acumulemos – em poucos dias – experiências que poderiam levar anos para serem absorvidas. Desta forma, como já mencionei na semana passada, impossível deixar passar em branco os dias que passei em países anos luz à frente de nós, em termos de desenvolvimento humano e social.
De volta a Guarulhos, é possível ter uma visão ainda mais crítica sobre a cidade. Não que isso não houvesse antes. Mas comparações são inevitáveis. Lamentável, por exemplo, perceber que todo dia, mesmo morando na região central, não há água na torneira quando retorno para casa à noite. Esse é um problema que só se agrava sem a gente perceber ações públicas para melhorar a situação.
Na Eslováquia, um país que ainda se ressente da herança deixada pelo comunismo, isso não existe. Aliás, o sistema de abastecimento de água leva em consideração as temperaturas, muitas vezes bem abaixo de zero grau. Assim, para que o líquido não congele, todo o sistema de encanamento fica alguns metros abaixo da terra. Algo simples para eles.
O sistema de saúde pública é um capítulo à parte. Enquanto, por aqui, a população sofre em busca de atendimento nos precários postos espalhados pela cidade e dá graças a Deus quando consegue que um médico dispense dois minutos de atenção a seu problema, lá cada cidadão tem um profissional que o acompanha ao longo de toda a vida. Estranho? Não. Coerente. Basta raciocinar um pouco para perceber o quanto o Estado economiza.
O médico pessoal tem um histórico bem definido da saúde de seu paciente. Qualquer enfermidade, ele encaminha para o profissional especializado, junto com as recomendações necessárias, evitando diagnósticos imprecisos e exames desnecessários. O tratamento, em seguida, é feito a quatro mãos, sempre se considerando antecedentes médicos do paciente.
Pode parecer utópico. Mas é real. E funciona de verdade. Muitos podem até dizer que são práticas inviáveis para nosso país, onde o interesse privado prevalece ao público. Mas será que, se o dinheiro do povo fosse bem aplicado, não seria possível começar a adotar práticas que dão certo no mundo desenvolvido?
Muito diferente disso, por aqui, somos obrigados a engolir políticos defendendo aumento de impostos, como se uma maior arrecadação fosse a solução para todos problemas. A história do Brasil, com uma das cargas tributárias mais altas do mundo, revela que esse não é o caminho.
Ernesto Zanon
Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo
No Twitter: @ZanonJr