Estadão

Lições sobre o uso da Coronavac em outros países

No Chile, país com o melhor desempenho de vacinação na América Latina, com 55% de sua população completamente imunizada, e que utiliza a vacina da farmacêutica chinesa desde o início da imunização de sua população, recentes aumentos nos números de casos de covid-19 acenderam o alerta. O comportamento da pandemia no país andino, mesmo após a vacinação avançada, levantou dúvidas: a vacina que eles e nós utilizamos é, de fato, eficiente? Estamos protegidos após as duas doses do imunizante? Seria melhor escolher outra vacina? Sim, sim e não.

Todos os estudos até aqui apresentados mostram que a Coronavac, vacina produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, é eficaz. Tomar as duas doses confere proteção de 80% contra sintomas, 86% contra internações e previne a morte em 95% dos casos. Os dados são do estudo do Butantan.

Para o infectologista e professor da Unesp Alexandre Naime comparar vacinas agora é um desserviço. "É uma excelente vacina para um momento em que precisamos reduzir o número de mortos", afirma. "Agora, é como estar em um país em que se morre de fome e reclamar do arroz com feijão."

Ele lembra que o que está por trás da desconfiança em relação às vacinas desenvolvidas na China é uma "guerra política" que mais desinforma do que ajuda as pessoas a entender como funciona cada uma delas. "Não cabe comparar agora. No futuro terá sim a revacinação e novas vacinas. Agora, precisamos salvar vidas", afirma.

Segundo a médica e professora da Universidade do Chile e membro da Sociedade Chilena de Infectologia, Claudia Cortés, a Coronavac tem alta eficiência em evitar os casos graves, hospitalizações e mortes, mas aparentemente não é tão eficaz para barrar a contaminação. No entanto, o comportamento da pandemia por lá é resultado direto de outro comportamento: o da população. "Houve uma volta à vida noturna, empresas exigindo que funcionários fossem para os escritórios e falta de fiscalização", afirma.

É a mesma avaliação da infectologista da Unicamp Raquel Stucchi. Ela diz que esse também é um risco que o Brasil corre, caso abandone as medidas de afastamento social e prevenção não farmacológicas. "Eles não esperaram ter uma redução sustentada do número de casos, hospitalizações e mortes para flexibilizar", diz.

A médica lembra que há porém algumas dúvidas ainda a serem respondidas. Uma delas é sobre a duração da imunidade em vacinados com as duas doses do imunizante. "A gente sente falta de estudos em relação às vacinas chinesas", afirma.

Mas, se a situação no Chile causou preocupação aqui entre os brasileiros, as causas apontadas pelas especialistas para os novos surtos também deveriam provocar. O mesmo ocorreu em países como o Bahrein e a Mongólia, que também utilizam vacinas de origem chinesa em larga escala. No Bahrein, país em que 58,8% da população já está completamente imunizada, as mortes atingiram seu maior número no dia 6 de junho. Foram 28 vítimas, número sem paralelo para o país de 1,6 milhão de habitantes que só ultrapassou o patamar de dez mortes diárias em maio.

Segundo os especialistas locais, o aumento de casos foi resultado das reuniões durante o Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos, em que após o pôr do sol as pessoas se reúnem para comer e celebrar após passarem o dia em jejum. Na Mongólia, onde 53% da população já foi imunizada com as duas doses, ou com a dose única, reuniões de massa e concertos musicais comemoraram, em março, o 100.º aniversário da agremiação política. Muitos compareceram sem máscara, líderes do partido entre eles.

<b>Israel</b>

Por fim, uma mostra de que não só os países que recorreram às vacinas de origem chinesa tiveram problemas, Israel anunciou a volta de algumas restrições, como o uso de máscaras, pouco tempo após ter relaxado as medidas de contenção. O país enfrenta um novo surto de doença causado pela variante Delta do coronavírus.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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