A Livraria Cultura fechou definitivamente as portas no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, nesta segunda-feira, 26. Com a falência decretada em 9 de fevereiro, ela ganhou uma sobrevida quando, dias depois, conseguiu uma liminar para seguir com seu plano de recuperação judicial. Mas era só uma questão de tempo. Em maio, o recurso da Cultura foi negado e a falência foi mantida. Agora, ela cumpre a ordem de despejo.
Apenas o café está funcionando, e enquanto não é providenciada uma entrada pela Alameda Santos, as pessoas podem acessar o espaço pela porta principal, dentro do Conjunto Nacional. Seguranças da livraria tentaram tirar o aviso de que a livraria está fechada, mas o café está aberto, da porta, na manhã desta terça-feira, 27. Mas a proprietária colocou de volta.
Uma das mais tradicionais livrarias de São Paulo, a Cultura foi inaugurada em 1969 por Eva Herz, foi herdada por seu filho Pedro Herz, responsável pela expansão da rede a partir de 2007, quando ela abriu sua primeira megastore – esta loja que está sendo fechada agora, que era também a última da família – e era administrada pelos filhos do livreiro.
A Livraria Cultura já teve várias lojas dentro do Conjunto Nacional, onde chegou em 1969. Além desta maior, ela já teve uma loja dedicada a livros de arte, outra de conteúdos e produtos geek e operou livrarias exclusivas de editoras como a Companhia das Letras e a Record.
Nas últimas décadas, a rede de Pedro Herz se espalhou pelo Brasil, e a Cultura teve lojas em Brasília, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. Em São Paulo, ela também estava presente em alguns shoppings, como o Bourbon, o Villa-Lobos e o Iguatemi.
A Livraria Cultura homologou seu pedido de recuperação judicial em abril de 2019 e o mercado editorial sempre foi unânime em dizer que, embora o setor começasse a entrar em recessão, o que aconteceu com a Cultura, e também com a Saraiva, que também entrou em recuperação judicial um pouco depois, em setembro daquele mesmo ano, foi resultado de ambição.
Com a crise das duas redes – a Saraiva era a maior do País e a Cultura, uma das mais relevantes, as demais livrarias começaram a repensar seus modelos. As lojas ficaram menores e mais focadas no negócio principal: venda de livros.
<b>As livrarias de São Paulo pós-crise da Cultura e da Saraiva</b>
Hoje, a rede mineira Leitura é a maior do País em número de lojas. Ela começou 2023 com nada menos do que 99 unidades, e tem previsão de abrir pelo menos mais seis. Até o fim do ano, devem ser 25 lojas no Estado de São Paulo e a expectativa é que Marcus Telles, o proprietário, assuma o espaço que vai ficar vago com o despejo da Cultura do Conjunto Nacional.
Telles sempre diz, orgulhoso, que a expansão de sua empresa é feita com capital próprio, e não com empréstimos e financiamentos bancários, como no caso das duas ex-concorrentes. Ele também tem uma regra rígida: loja que não dá lucro é fechada, independentemente do investimento feito.
A Leitura se espalha pelo País, assim como a rede Livrarias Curitiba – forte no Sul e que tem investido no interior de São Paulo.
Rui Campos, dono da Livraria da Travessa, que chegou timidamente em São Paulo, em 2017, tem investido na expansão do negócio aqui. Ela acaba de abrir uma unidade no Shopping Iguatemi Alphaville e inaugura, em agosto, outra no Shopping Villa-Lobos, exatamente onde ficava a Cultura – mas num espaço menor, de 600 m2 (a da Cultura tinha 3 mil m2).
Tradicional no Rio, a Livraria da Travessa opera a livraria do Instituto Moreira Salles, na Paulista, e tem ainda lojas na Rua dos Pinheiros e no Shopping Iguatemi – também onde ficava a Cultura.
Também tradicional, e hoje a principal da Avenida Paulista, a Martins Fontes ganhou mais clientes quando a Cultura perdeu relevância e acervo. No Conjunto Nacional, a Livraria Drummond também se beneficiou da derrocada da vizinha – ela foi inaugurada em 2022 e já estuda uma segunda loja no tradicional endereço da cidade.
Quem circula pela Paulista, encontra ainda uma unidade da Vila, também em franca expansão em São Paulo, no Shopping Paulista, e também uma pequena loja, dedicada a cinéfilos, mas não só, a Livraria no Reserva, dentro do Reserva Cultural.
<i>Livrarias independentes</i>
Mas o que chama a atenção, mesmo, em São Paulo, é o movimento de abertura de livrarias de rua. Recentemente a cidade ganhou duas livrarias especializadas em literatura infantil, ambas no bairro da Pompeia: a Miúda e a Pé de Livro.
A Livraria do Brooklin foi aberta no ano passado no bairro que não contava com nenhuma livraria.
No Copan, no Centro, tem a Megafauna. Ali perto, foi inaugurada no fim do ano a Livraria Eiffel, especializada em livros de arquitetura e áreas afins.
De 2021, a Livraria Gato Sem Rabo vende apenas livros escritos por mulheres. Ela fica na Amaral Gurgel. Entre as novas livrarias de São Paulo, estão ainda a Ponta de Lança, em Santa Cecília, a Yerba, na região do Minhocão, e a Cabeceira, na Vila Romana, numa região também carente de livrarias. Há, ainda, em Pinheiros, a Mandarina e a Livraria da Tarde. Isso tudo sem contar que cidade está ganhando novos sebos.