O bom filho à casa torna. A expressão popular encaixa perfeitamente na trajetória de Erick Vianna em Pequim-2022. O atleta que esteve em Pyeongchang-2018, na Coreia do Sul, como reserva da equipe de bobsled e se encaminhava para a primeira participação em Jogos Olímpicos, tomou um susto ao testar positivo para covid-19 no último dia 29 em sua chegada na China. A notícia caiu como um bomba, ainda mais para quem estava se cuidado durante todo o período pré-viagem.
"É uma notícia que ninguém quer receber. Na hora foi um susto porque fiz dois testes PCR na Áustria antes de viajarmos e ambos deram negativo. Tanto eu quanto os outros atletas do time estávamos nos cuidando ao máximo, seguindo todos os protocolos de prevenção à covid que a CBDG (Confederação Brasileira de Desportos no Gelo) e COB (Comitê Olímpico do Brasil) nos orientaram", contou Erick.
"O primeiro dia de isolamento acho que foi o pior. Cheguei na Vila Olímpica e depois de uns 40 minutos recebi a notícia do teste positivo. Passou muita coisa pela minha cabeça, desde eu ser liberado em um ou dois dias, ou até mesmo de eu ter que voltar pro Brasil. Mas, depois de algumas horas, consegui me concentrar e me acalmar", prosseguiu.
O atleta, que assumiu o papel de braço direito de Edson Bindilatti na seleção brasileira após a morte de Odirlei Pessoni em um trágico acidente automobilístico em 2020, precisou um dos seus maiores atributos – o foco – para se manter ativo durante o período de isolamento.
"No dia seguinte, acordei bem cedo, montei um planejamento pro dia, desde o horário que eu ia tomar café da manhã, treinar, até quando ia dormir. Depois, fui transferido pra um quarto de hotel, que ficava uns 30 minutos da Vila Olímpica. O pessoal do hotel conseguiu uma bicicleta pra eu treinar, usava as malas como pesos e fazia sprints na bike. Os meus companheiros de equipe sempre estavam em contato comigo via mensagem perguntando se estava tudo bem. Ao mesmo tempo que eu estava isolado, sabia que podia contar com todos do Time Brasil que estão aqui na China. Então, não deixei de perder o foco nos Jogos Olímpicos e procurei manter minha mente focada no que eu vim pra fazer!", disse.
Na terça-feira, o atleta finalmente conseguiu os dois resultados negativos que precisava para poder voltar à Vila Olímpica. Mas a liberação oficial ainda demorou um pouco porque o Comitê Organizador precisava verificar o local onde Erick iria ficar hospedado. Ele fez questão de agradecer à equipe médica do COB. "O Dr. Felipe (Hardt, chefe médico da Missão) foi uma peça essencial nestes dias de isolamento. Ele que me mantinha informado do que estava acontecendo, me falava sobre os próximos passos, protocolos a serem seguidos, testes, etc… Ele e a equipe que está em Pequim cuidaram de tudo o que eu precisava".
Agora, Erick tem que ficar em quarto single, comer e usar o transporte para treino e competição sozinho. Ele também será testado duas vezes ao dia por uma semana. Depois desse período, poderá seguir a mesma rotina da equipe, que começou os treinos com o trenó na pista nesta quarta-feira. "A sensação agora é muito boa! Vou ter algumas restrições, mas poderei treinar normalmente e fazer o que mais amo que é treinar e competir", comemorou.
A primeira prova dos brasileiros da modalidade será com trenó de duas pessoas no próximo dia 14. Já o quarteto fará a primeira classificatória no dia 19. Em PyeongChang-2018, Erick acordava 5h40 para ir treinar, mesmo sendo reserva àquela altura. Agora vai acrescentar mais uma experiência diferente ao seu currículo e levar para a vida.
"Tive uma experiência parecida nos Jogos Olímpicos de PyeongChang-2018, onde peguei uma virose e tive que ficar isolado por três dias. Aqui na China foi um pouco parecido. Nesses dois momentos, o que levo de experiência pra vida é a reflexão, pensar sobre quem você é, sobre os seus objetivos, suas fraquezas, pontos fortes. Com tudo isso, traçar um plano de ação pra alcançar o seu propósito!", completou.