Duas obras – um livro e um CD – relembram a trajetória do cantor e compositor Taiguara, que fez sucesso nos anos 60 e 70 com canções como “Hoje”, “Universo no teu Corpo”, “Helena, Helena, Helena” e “Modinha”. “Os Outubros de Taiguara – Um Artista contra a Ditadura: Música, Censura e Exílio”, escrito pela jornalista Janes Rocha, destaca o trabalho de um dos mais completos compositores do Brasil e considerado um dos símbolos da resistência à censura.
Com prefácio do jornalista João Gabriel de Lima e introdução do crítico musical Tárik de Souza, a biografia faz parte de um projeto de recuperação do trabalho de Taiguara realizado pela gravadora Kuarup. Com pesquisas no Arquivo Nacional e no extinto Serviço Nacional de Inteligência (SNI), Janes mostra fatos inéditos de como a repressão prejudicou o trabalho do artista. De acordo com a autora, Taiguara teve mais de 80 de suas canções vetadas pela censura e um disco – “Imyra, Tayra, Ipy, Taiguara” – recolhido pouco depois de chegar às lojas, em 1976. “Taiguara não chegou a ser preso, mas foi, assim como Chico Buarque, um dos artistas mais perseguidos na época”, diz Janes.
A autora revela ainda que para construir a biografia entrevistou músicos, profissionais, familiares, amigos, políticos – num total de 34 pessoas. “O trabalho de pesquisa envolveu também uma bibliografia com 18 fontes entre livros e teses acadêmicas, 30 sites e blogs, material publicado em dez jornais e revistas, além da discografia de Taiguara composta de 14 LPs e CDs”, afirmou. “Espero que a história de Taiguara retratada no livro ajude a manter viva a lembrança sobre o prejuízo que representou a ditadura civil-militar que se instalou no País entre 1964 e 1985”, conclui.
Já o CD “Ele Vive” traz faixas inéditas que imprimem a característica ativista de Taiguara. Entre elas, a canção “Ele Vive”, composta para o líder comunista Luís Carlos Prestes (1898-1990), com quem Taiguara conviveu e que lhe rendeu vigilância pelos órgãos de repressão do governo. Mas o álbum não é composto apenas por manifestos, a música “Te Quero” é uma declaração de amor. O disco reúne ainda quatro faixas bônus, gravadas ao vivo no Teatro João Caetano, no Rio.
No início da carreira, Taiguara mostrava em suas obras elementos da bossa nova, jazz, samba e pop. Ao longo do tempo, ele incluiu em seus trabalhos ritmos latino-americanos e africanos. O cantor, que foi três vezes finalista dos festivais de Música Popular Brasileira nos anos 1960, morreu em fevereiro de 1966, aos 50 anos, vítima de câncer, e deixou um repertório com pelo menos uma centena de músicas escritas.
O álbum “Ele Vive” e a biografia “Os outubros de Taiguara” terão lançamentos simultâneos pela gravadora Kuarup, responsável pela curadoria de parte da obra do artista. A previsão é que ambos estejam nas lojas até o dia 09 de outubro, dia do aniversário de Taiguara, que completaria 69 anos. Em 2013, a gravadora relançou o polêmico “Imyra, Tayra, Ipy”.