No dia 13 de agosto de 1941, 417 imigrantes japoneses desembarcavam no Porto de Santos. Eles foram os derradeiros da primeira fase da imigração para o Brasil. Quatro meses depois, o Japão atacaria Pearl Harbour, no Havaí, a guerra se tornaria ainda mais global, o Brasil romperia relações diplomáticas com os chamados Súditos do Eixo e as fronteiras seriam fechadas por um longo e sombrio período – para os que conseguiram entrar e para os que ficaram por lá.
É nesse contexto que se inicia a obra Do Conflito à Integração – Uma História da Imigração Japonesa no Brasil (1941-2008), que Shozo Motoyama, historiador e professor da USP, e de Jorge J. Okubaro, jornalista e editorialista do jornal O Estado de S.Paulo, lançam nesta quinta-feira, 31, no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil. A edição é da Associação para Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa e do Instituto Brasil-Japão de Integração Cultural e Social.
O que ocorreu entre 1908, ano da chegada do Kasato Maru com os primeiros imigrantes, e a entrada do Japão na guerra é contado em Sob o Signo do Sol Levante – Uma História da Imigração Japonesa (1908-1941), volume de Motoyama publicado em 2011 e que abriu esta série.
“A ideia era fazer um livro um pouco diferente daqueles sobre a história da imigração japonesa tradicionais e entender a imigração como uma espécie de interface das histórias do Brasil e do Japão”, explica Motoyama.
Nesse período, os imigrantes, que já sofriam repressão desde as medidas nacionalistas do Estado Novo, de 1937, veem sua situação se agravar com o avanço do conflito. Facilmente identificáveis, passam a ser “o inimigo”. Não podem falar mais seu idioma nas ruas, são hostilizados. As publicações nipônicas são impedidas de circular e as escolas japonesas, fechadas. Isso tudo, entre o início dos anos 1940 e 1946.
“Essa sensação de orfandade e essa falta de informação acabaram gerando um conflito de proporções e características inimagináveis – a ponto de a grande maioria dos imigrantes e seus filhos imaginarem que o Japão havia ganhado a guerra”, comenta Jorge Okubaro. Eles vinham de um país que, conforme tinham aprendido, era indestrutível. Uma potência a ser respeitadae defendida – e associações nacionalistas como a Shindo Renmei, nas palavras de Shozo Motoyama, “causaram furor e estrago no pós-guerra”.
É Okubaro quem se ocupa de explicar o clima da época – e este é um assunto caro a ele, filho de um membro dessa associação e autor de O Súdito (Terceiro Nome), sobre seu pai. O jornalista conta, também, como era a São Paulo daquele tempo. “Não há muita literatura sobre a cidade e a guerra e eu quis inserir nela as pessoas dessa comunidade, seus conflitos e suas formas de convivência com sociedade”, conta.
A obra aborda, ainda, questões como o papel da culinária e das artes na inclusão dos imigrantes e na divulgação do país – e principalmente o papel dos cinemas da Liberdade na reintegração da comunidade e na apresentação de uma nova cultura aos brasileiros. Explora, também, a presença dos nikkeis na academia e o caminho de filhos de imigrantes no sentido oposto feito por seus pais: em busca de melhores condições econômicas, embarcaram, a partir dos anos 1980, para o Japão, causando novas mutações nas famílias.
A preocupação, agora, diz Jorge Okubaro, é como preservar a cultura japonesa e seu papel na formação de uma sociedade brasileira multicultural “sem perder a identidade e sem reservá-la a guetos”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.