Qual a função do fotojornalismo? Peter Galassi, ex-curador-chefe do Departamento de Fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova York, foi assertivo, quando conversou com o <b>Estadão</b> em 2011: "Imagens podem descrever o mundo de uma forma que as palavras não conseguem. Essa é uma das razões de ser do fotojornalismo. Imagens dramáticas, coloridas, sexy vendem revistas e jornais. Essa é outra razão de ser do fotojornalismo, tão legítima quanto a primeira. A chave está em evitar confundir uma e outra".
É exatamente o que faz o fotojornalista Eduardo Nicolau, cuja obra compreende tanto o registro instantâneo de uma ação, aquela imagem que vale mais que mil palavras, como o retrato de personalidades, cujo realismo documental confere dignidade à fotografia enquanto grande arte. É o que se observa em Retratos (Ipsis), conjunto de imagens em preto e branco que Nicolau capturou ao longo de anos, boa parte publicada nas páginas do <b>Estadão</b>, onde trabalhou, além de material inédito, de caráter autoral.
Assim, a obra – que será lançada na noite desta quarta-feira, 29, em seu estúdio, no bairro de Vila Mariana (Rua França Pinto, 31, a partir das 18h) – reúne fotos apresentadas pela primeira vez, como dos músicos Chico Buarque e Ron Carter, um dos ícones do jazz. "Outras foram pensadas inicialmente para publicação em jornal, mesclando um toque de fotojornalismo com um olhar particular", escreve Nicolau, no prefácio. É o caso de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil, agora membros da Academia Brasileira de Letras.
Segundo o fotógrafo, trata-se de um encontro de personagens, diversos, polêmicos em alguns casos, mas peculiares. "Toda essa interação – momento, expressão, espontaneidade, luz, sombra, enquadramento, cumplicidade, essência – se imprime em um diálogo fotográfico."
<b>ESTRUTURA</b>
A organização das fotos não segue uma estrutura rígida, seja temporal, seja dividir os personagens por sua área de atuação. Nicolau promove um passeio que permite, muitas vezes, acreditar que as poses fossem combinadas, embora separadas por vários anos. É o caso de Paulo Autran e Djalma Santos: o ator foi fotografado em 2002 de braços abertos, diante do Teatro Municipal, enquanto o jogador de futebol também estica os braços, à frente do Estádio do Pacaembu, em 2008.
O trabalho de Nicolau reforça a tese de que o registro fotográfico é parte da construção da memória e da própria identidade de um povo. Especialmente quando se observa uma tendência (da qual ele é fiel seguidor) que mostra o fotojornalismo cada vez mais interessado em utilizar a estética de outras áreas da fotografia para cumprir sua missão, que é informar. E, com a sociedade cada vez mais globalizada, a universalização da linguagem torna-se quase que obrigatória – e a estética pode contribuir para isso.
Fotografias não copiam a realidade, mas trazem muito do sabor desses momentos, observou ainda Peter Galassi, que citou o colega americano Lee Friedlander: "A fotografia é um meio generoso, pois oferece uma árvore e todas as suas folhas". "Ou seja, uma foto traz muito mais do que imaginamos estar naquela imagem – por isso que retornamos sempre a ela", completou Galassi.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>