A Polícia Federal encontrou na residência do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque – indicado do PT ao cargo – contrato de sua empresa de consultoria, a D3TM Consultoria e Participação, com a Jamp Engenheiros Associados, de 2013, no valor de R$ 1,2 milhão. A Jamp pertence ao operador de propinas Milton Pascowitch, que atuava em nome da Engevix Engenharia no esquema de cartel e corrupção na estatal desbaratado pela Operação Lava Jato. Engevix e Jamp pagaram R$ 2,6 milhões ao ex-ministro José Dirceu – também por serviços de consultoria, entre 2008 e 2012.
A própria Engevix, também contratou os serviços de consultoria do ex-diretor de Serviços em 2014, segundo comprovam contratos e notas apreendidas nas buscas feitas pela PF..
Duque está preso desde o dia xx, depois que foi deflagrada a Operação Que País é Esse – décima fase da Lava Jato. Nesta semana, ela foi transferido junto com outros 11 detidos da Custódia da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, para um presídio do sistema estadual paranaense.
Pelo menos 11 notas fiscais apreendidas mostram pagamentos mensais da Jamp de R$ 100 mil para a D3TM entre maio de 2013 e abril de 2014, quando Duque comunicou que não poderia mais cumprir seu contrato. O documento de encerramento da parceria foi encontrado também.
Além da Jamp, a D3TM foi contratada também por outras empreiteiras do cartel acusado de cartel e corrupção na Petrobras, com a UTC, a OAS e a Iesa.
O ex-diretor de Serviço – principal alvo da Lava Jato no esquema de corrupção da estatal – era indicado do PT e ocupou o cargo entre 2003 e 2011. Ele nega qualquer irregularidade envolvendo os contratos da estatal. Preso pela primeira vez em 14 de novembro, foi solto dias depois por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Flagrado no mês passado transferindo 20 milhões de euros de contas da Suíça para o Principado de Mônaco, ele foi preso e teve sua fortuna congelada pelas autoridades.
Ligação
Foram encontrados também contratos e notas que provam que a Jamp emprestou R$ 730 mil, em 2012, para a empresa que construiu o prédio, no Rio, onde Duque passou a ser proprietário de três unidades, pelo valor de R$ 2 milhões.
Documento de setembro de 2012 mostra que pelo acerto entre Duque e a Malta Incorporadora, previa que o ex-diretor pagaria diretamente para a Jamp valores referentes aos R$ 730 mil que estavam pendentes referentes a um empréstimo feito entre da empresa de Pascowitch para a incorporadora.
A ligação direta entre a Jamp e a empresa de consultoria de Duque e o negócio suspeito envolvendo a compra dos apartamentos em 2012, levaram os investigadores da Lava Jato aprofundar as investigações sobre o uso de consultorias para desvios de recursos.
Dirceu
A Jamp é a mesma empresa que pagou a JD Assessoria e Consultoria Ltda., do ex-ministro José Dirceu, em 2011 e 2012. O ex-ministro alegou que foi por serviços de consultoria internacional prestados para a construtora Engevix Engenharia, em Cuba e no Peru.
Para os investigadores da Lava Jato, a Jamp era uma empresa de fachada de Pascowitch usada para esquentar o dinheiro da propina. Não há aparente relação justificável para a relação comercial formal entre as partes, acreditam os procuradores.
O que reforça a suspeita é o depoimento de um dos sócios da Engevix, Gérson de Mello Almada – preso desde o dia 14 de novembro de 2014 na Justiça Federal, na última quarta-feira, 18. O vice-presidente da empreiteira confessou ter pago por serviços de “lobby” o operador de propina, como forma de garantir seus contratos na Petrobras.
Pascowitch seria um abridor de portas na estatal, graças aos seus contatos com membros do PT, entre eles o tesoureiro do partido João Vaccari Neto.
O que chamou a atenção dos investigadores foi que Almada admitiu ter contrato as consultorias internacionais da JD, para abrir mercado em Cuba e no Peru, mas diz desconhecer a relação comercial entre Jamp e a empresa do ex-ministro – conforme justificou Dirceu em nota oficial à imprensa, um dia depois.
A JD nega qualquer irregularidade e diz que os contratos foram legais.