A Operação Lava Jato identificou pelo menos cinco outras empresas investigadas por corrupção na Petrobras – além do estaleiro Keppel Fels – pagaram o operador de propinas Zwi Skornicki, que repassou US$ 4,5 milhões para a conta secreta da Suíça do marqueteiro do PT João Santana – preso com a mulher, Mônica Moura, desde 23 de fevereiro, em Curitiba alvos da 23ª fase batizada de Operação Acarajé.
Entre 2013 e 2014, Zwi recebeu comissões milionárias pelo seu trabalho de intermediador de contratos das empresas Queiroz Galvão, Iesa, Saipem, Ensco e UTC – as quatro primeiras negam irregularidades. Há ainda pagamentos regulares por outras que não são alvo da Lava Jato, como a Siemens, Doris, Megatranz, Frasopi e Sotreq.
As investigações da Lava Jato nesse frente buscam identificar se o dinheiro que transitou das contas de Zwi para a conta secreta de João Santana teve como origem os desvios na Petrobras. A força-tarefa chegou aos US$ 4,5 milhões transferidos pelo lobista para o marqueteiro do PT analisando os recebimentos da conta mantida por ele no Banke Heritage, na Suíça, em nome da offshore Shellbill Finance SA. Ao todo, foram identificados 9 depósitos na Shellbill – de João Santana -, que passaram pela agência do Citibank em Nova Iorque, tendo como pagador contas de outra offshore, a Depp Sea Oil, que pertence a Zwi Skornicki.
A Deep Sea Oil é uma das empresas que existiam apenas no papel abertas pelo lobista no exterior e supostamente usadas para movimentar propina. No Rio, Zwi recebia por seus serviços via Eagle do Brasil, informa a Lava Jato.
Investigadores da Lava Jato haviam apreendido em 2015 na casa do lobista, no Rio, documentos da contabilidade da empresa de consultoria de Zwi, a Eagle do Brasil. Essa empresa, para os investigadores, era a principal recebedora dos serviços de intermediação de contratos na Petrobras.
Foi por meio de contas legais e secretas que a Lava Jato investiga a prática de corrupção e lavagem de dinheiro. Além do marqueteiro, há a identificação de pagamentos de propina ocultou a outros investigados.
A PF anexou aos autos o registro de venda, em 2012, de uma BMW 550i no valor de R$ 380 mil para o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco, delator do processo. Há ainda o registro de pagamento de aparelhagem de ginástica paga para o ex-diretor de Serviços Renato Duque no valor de R$ 25 mil, no mesmo ano.
Cooperação internacional
A chave para detalhas as propinas intermediadas por ZWi Skornicki está no Delta Bank. O operador tem contas em seu nome e em nome da offshore Deep Sea Oil nessa instituição financeira.
Nos documentos analisados nas buscas de Zwi, a PF identificou uma lista de convidados para festa do filho e sócio Bruno Skornicki em que além de investigados da Lava Jato, como João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, ex-funcionários da Petrobras, está registrada a presença de Paulo Alexandre Lerner, gerente do Delta Bank em Nova York. Ele não foi encontrado para comentar o caso.
No Relatório de Análise de Mídia nº 449/2015 da PF há uma troca de e-mail entre Zwi e Lerner, em que o lobista pede ao executivo do banco “que confirme valores” que recebeu do Keppel Shipyard”. “A conclusão lógica é que Zwi recebia valores de comissão do Estaleiro Keppel Fels em contas no Delta Bank, possivelmente em nome da offshore Deep Sea Oil Corp”, afirma o delegado Filipe Hille Pace.
Barusco, delator da Lava Jato, afirmou que houve acerto de 1% de propina em contratos bilionários de navios-sonda pelo estaleiro. Os valores foram pagos por Zwi, segundo ele.
Em outra troca de mensagem Zwi trata com Angela Boni, identificada pela PF como representante do banco. ” Na mensagem, Zwi Skornicki dá ordens e faz indagações a funcionária do Delta Bank de nome Angela Boni.” Há ainda o envio de documento para assinatura do lobista. “Tratam-se de comandos para venda de ativos, dentre outras providências.”
Só do estaleiro Keppel Fels, uma das principais fontes pagadores das consultorias de Zwi, o lobista recebeu R$ 32 milhões no período investigado.
Dos US$ 4,5 milhões que a conta da Deep Sea Oil passou para conta secreta de João Santana, três pagamentos foram feitos entre julho e novembro de 2014 – todos no valor de US$ 500 mil -, período da campanha eleitoral em que a presidente Dilma Rousseff foi eleita. A Polis Propaganda e Marketing, do marqueteiro petista, foi a responsável pela campanha, ao custo de R$ 70 milhões.
Mônica Moura, presa junto com Santana, em Curitiba, afirmou em depoimento à Polícia Federal na quarta-feira, 24, que os valores repassados por Zwi foram caixa-2 da campanha presidencial de Angola. O nome do operador, segundo ela, foi indicado pela campanha angolana.
A defesa de Zwi Skornicki informou que só vai se pronunciar nos autos.
O presidente da UTC, Ricardo Pessoa, fechou acordo de delação premiada e confessou ter pago propina em contratos da Petrobras para executivos da estatal, partidos e políticos. A Queiroz Galvão tem negado irregularidades.
Não foram encontrados representantes da Keppel Fels, IESA, Saipem e Ensco para comentar o caso.