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Local onde será futuro autódromo do Rio abriga quadrilhas de ladrões de cargas

Construir o novo autódromo do Rio de Janeiro vai demandar, além do investimento para fazer a pista e organizar toda a estrutura que a cerca, resolver problemas estruturais (e históricos) da região de Deodoro, zona oeste da cidade. Um dos principais deles diz respeito à violência na área.

O Estado foi ao local onde a Rio Motorsports pretende construir a nova pista da Fórmula 1 – a cidade, em disputa direta com São Paulo, negocia possível contrato para receber a corrida a partir de 2021. O trânsito na região é caótico e a segurança pública, deficiente.

Vias asfaltadas passam no entorno e bem em frente ao principal acesso à área de mata. O local, ainda uma região militar, é cercado por muros. Na quinta-feira, três soldados faziam a sentinela da região, apesar de a aparência ser quase de abandono.

Próximo de lá fica o Complexo do Chapadão, conjunto de favelas dominado pelo tráfico. O local é conhecido no Rio por ser um dos principais destinos das cargas roubadas de caminhões na Avenida Brasil. No mês passado, por exemplo, a polícia cumpriu mandados de prisão no complexo para combater quadrilhas de ladrões e receptadores de cargas roubadas.

É na mesma região que fica a favela do Muquiço, que também está sob o poder do tráfico e que frequentemente é alvo de operações da Polícia Militar.

Um dos acessos ao local é onde, no início de abril, um músico foi morto após soldados do exército dispararem mais de 80 tiros em direção ao veículo que ele dirigia. O catador de recicláveis Luciano Macedo, baleado ao tentar ajudar a família que estava no carro, também morreu cerca de dez dias depois. Os envolvidos alegaram que a ação ocorreu após eles terem confundido o carro com o de suspeitos que, mais cedo, haviam atirado contra os próprios policiais.

Razoavelmente bem servida de estradas no entorno, a região sofre com o trânsito intenso e poucas linhas de ônibus. Uma solução para eventuais dias com competição seria oferecer ônibus exclusivos. Outra, de maior impacto urbano, seria ampliar a oferta ferroviária.

O governador do Estado do Rio, Wilson Witzel (PSC), afirmou recentemente que a Supervia – concessionária que administra os trens no Rio – poderia construir uma nova estação de trem na região de Deodoro. Ao Estado, a Supervia informou apenas que “está à disposição” para “discutir propostas” com o governo.

ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL – Tramita na Câmara Municipal do Rio há dois anos projeto para transformar o local em uma Área de Proteção Ambiental (APA). O mesmo projeto deve ganhar a Assembleia Legislativa fluminense (Alerj).

A Alerj montou uma Comissão de Representação para acompanhar a implantação do autódromo de Deodoro, enquanto que, na Câmara Municipal, uma Comissão Especial foi criada para acompanhar as obras. Nos próximos dias será agendada uma reunião com a subsecretária executiva da Secretaria Municipal de Fazenda, Rosemary de Azevedo Carvalho Teixeira de Macedo, para detalhar o projeto no local.

Os deputados do Rio pretendem fazer uma visita técnica ao terreno onde será implementado o novo autódromo e também solicitar ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) cópias do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIA).

Desde 2017 tramita no legislativo carioca projeto de lei para transformar a Floresta de Camboatá, em Deodoro, em uma área de proteção, o que na prática inviabilizaria a construção do autódromo da F-1. O projeto foi aprovado em primeira discussão, mas recebeu uma emenda e aguarda pareceres para ser votado novamente.

A floresta possui aproximadamente 200 hectares, dos quais 114 são cobertos por áreas naturais e regeneradas, representativa das Florestas Ombrófilas de Terras Baixas. Este tipo de vegetação é uma das mais ameaçadas dentre as formações florestais que compõem a Mata Atlântica. O bioma abriga o último remanescente carioca deste tipo de vegetação.

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