Lojas virtuais amenizam prejuízos dos clubes brasileiros durante a pandemia

Desde o início da pandemia do novo coronavírus as equipes brasileiras não comemoram mais gols, venda de ingressos ou contratos de patrocínio, mas passaram a celebrar as vendas nas lojas virtuais. Promoções em artigos oficiais, descontos para quem é sócio-torcedores e campanhas de divulgação via e-mail ou redes sociais têm movimentado o comércio neste setor e ajudado os clubes a compensarem as perdas financeiras causadas pela paralisação do calendário.

As lojas online, aliás, são um dos poucos setores dos clubes que não foram fechados durante a pandemia. Pelo contrário. Vários times brasileiros consultados pelo <b>Estado</b> revelaram uma tendência do segmento dominar o setor. Assim como os brasileiros têm se acostumado a pedir comida, táxi e as compras de mercado com a ajuda da tecnologia, o hábito tem se estendido à compra das camisas e produtos oficiais do time.

Parceira de nove clubes brasileiros na operação de lojas virtuais, a Netshoes tem realizado promoções de fretes grátis e notado o crescimento na procura. "Apesar de estarmos com os campeonatos e jogos parados, tivemos um aumento de quase 10% no número de sessões nas lojas de times de futebol. Inclusive, em abril, tivemos o maior número de sessões do ano", disse a gerente comercial da empresa, Patrícia Lopes.

"Eu vejo que depois da pandemia, o consumidor terá aprendido a consumir mais na loja virtual. O hábito será outro", afirmou o diretor de marketing do Grêmio, Beto Carvalho. O clube opera 20 lojas físicas licenciadas. Em tempos normais, as compras online representam só 20% da comercialização do clube. Isso agora deve mudar. "Em abril tivemos cinco vezes mais vendas pelo site do que em março, apesar de no mês anterior termos disputado até um Gre-Nal", revelou.

Para aumentar o fluxo de clientes durante a pandemia, os clubes têm feito preços reduzidos e caprichado na divulgação. O Sport afirma ter aumentado as vendas em 118% em comparação à média do primeiro trimestre. Diminuição de 30% nos valores do produtos, opções de parcelamento e oportunidades de entrega grátis foram os segredos para o crescimento. "Com as lojas fechadas, viramos totalmente a chave para o e-commerce. As ações têm dado respostas positivas", disse o vice-presidente de marketing do clube, Diogo Noronha.

Os times têm desfrutado das lojas virtuais por ser um ramo de baixo custo de manutenção e cada vez com mais opções para atrair consumidor. Times como Fortaleza, Ceará, Bahia e Coritiba têm como diferencial serem os próprios donos e gestores das marcas. Com isso, em vez de procurar contratos com alguma grande empresa esportiva, é o clube quem gerencia todo o processo.

Essa peculiaridade possibilita ter um controle melhor do processo e conseguir reduzir os custos dos produtos com mais autonomia. O Fortaleza conseguiu fazer isso ao dar um desconto de 50% nos artigos para os membros do programa de sócio-torcedor. Na última semana, em dois dias o clube conseguiu fazer R$ 200 mil em vendas. Foi como se conseguisse fechar uma comercialização a cada 40 segundos em média. A diretoria até criou um serviço próprio de entregas, para não depender da terceirização e conseguir levar a compra mais rápido para o torcedor.

Segundo o presidente do clube, Marcelo Paz, o mês de abril vai fazer o Fortaleza ter um prejuízo de R$ 3 milhões, valor que poderia ter sido até maior. "Fizemos algumas reduções de despesa de custos que não eram essenciais e renegociações de pagamentos com fornecedores para equilibrar o caixa nesse período complicado, mas também contamos muito com ações comerciais como essa para estimular a entrada de receitas", comentou.

Maior rival do Fortaleza, o Ceará promete investir pesado no comércio virtual. O clube já planejava reabrir um novo site de vendas em maio e agora quer marcar a inauguração com uma série de promoções. "A pandemia potencializou essa vitrine que é o e-commerce. Vamos lançar em breve uma coleção específica para o torcedor, com um valor mais em conta", explicou o diretor de marketing do clube, Lavor Neto.

TENDÊNCIA DO MERCADO – Para especialistas, o movimento dos clubes de se dedicarem mais às lojas virtuais vai de encontro com a mudança de comportamento do torcedor neste momento de pandemia. "Os jogos não estão acontecendo, mas os clubes continuam sendo parte importante da identidade do torcedor. E muita gente está, neste período em que precisa ficar em casa, procurando formas de afirmar sua identidade e se conectar com as coisas que sente que são mais importantes", afirmou André Monnerat, gerente de negócios da Feng Brasil, empresa especializada em engajamento de torcedores e relacionamento em redes sociais.

Segundo o diretor da empresa especializada em marketing esportivo Lmid e ex-gerente de marketing do Corinthians Gustavo Herbetta, as plataformas de venda virtuais devem ser trabalhadas cada vez mais cuidadosas pelos clubes. É preciso até cuidar para que esse segmento não atrapalhe os pontos de venda tradicionais. "Deve haver uma política de preço clara no e-commerce em tempos normais, para que não canibalize as lojas físicas, que em sua maioria são franquias", comentou.

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