Birdman, filme com maior número de indicações para o Globo de Ouro (7 categorias) chega aos cinemas dia 29. O segundo colocado, com cinco indicações, Boyhood, já está em cartaz. Ele divide o posto com O Jogo da Imitação, que ainda não pintou nas telas brasileiras e também está prometido para dia 29.
Os outros candidatos ao Globo de Ouro, que já estrearam no Brasil, atestam a boa qualidade da competição deste ano. Grande Hotel Budapeste, que concorre a melhor filme, é, possivelmente, o trabalho mais convincente de Wes Anderson.
Abutre deve dar a estatueta a Jake Gyllenhaal. Ele é tão favorito quanto Reese Whiterspoon, por seu papel em Livre, que entra em cartaz dia 15. Concorrendo ao melhor filme estrangeiro, o polonês Ida, é tido como favorito não apenas ao prêmio dos correspondentes de Hollywood, como ao próprio Oscar. Mas, cá entre nós, para confirmar esse favoritismo (beneficiado pelo tema do Holocausto), terá de passar por cima do (sem trocadilho) peso pesado que é o russo Leviatã.
Seja qual for o resultado, o concurso deste ano fica marcado por essa obra incomum que é Boyhood – Da Infância à Juventude, de Richard Linklater. Se nele existe algo de espetacular é a própria disposição do projeto, trabalhado ao longo de anos, filmando os mesmos personagens enquanto eles envelhecem e se desenvolvem. Processo moroso, cheio de minúcias e paciência, tão inusitado em nosso tempo de pressa e precariedade que, só por isso, mereceria destaque. A questão é que o resultado é muito bom, mesmo que seu projeto de flagrar o próprio fluxo do tempo seja condenado ao fracasso de antemão.
O curioso é que Linklater tenta esse impossível, que seria filmar o tempo, utilizando personagens absolutamente comuns, gente que se encontra pela rua e nada tem de notável. Por outro lado, reafirma que toda pessoa, quando vista por um olhar humanista, revela-se de riqueza e complexidade insuspeitas. Foi um dos belos filmes do ano passado e tem recebido prêmios da crítica mundo afora.
Abutre, que pode consagrar Jake Gyllenhaal, é também e a seu modo, um filme invulgar. Gyllenhaal faz um biscateiro qualquer, que consegue se reciclar num mundo competitivo e se transforma em bem-sucedido caçador de imagens chocantes, que vende às TVs. Essa forma de “empreendedorismo” é bastante estimulada pela mídia sensacionalista. O filme faz uma crítica aguda da sociedade em que esperteza e desumanidade deixam de ser defeitos e tornam-se méritos. É raro, mas não impossível, que a crítica ao sistema venha do coração do próprio sistema, mas quando estrear Birdman, do mexicano Alejandro González Iñarrítu, o público poderá conferir algo também desta natureza. Jogando em chave cômica, Iñarritu debate as questões da fama a qualquer preço e de como ela cobra caro a glória de antigos ídolos, como acontece com o personagem vivido por Michael Keaton.
Por esses títulos, nota-se que o colegiado do Globo de Ouro, ao menos em parte, optou por filmes destoantes do ramerrão comercial, feito para durar uma temporada e ser esquecido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.