As modelos pareciam saídas de um disco voador e a ideia era exatamente essa. O clima futurista que domina a moda da Louis Vuitton atualmente encontrou o cenário perfeito para apresentar sua Coleção Cruise 2017, no Rio de Janeiro. A passarela foi armada, no sábado, 28, aos pés do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, obra emblemática do arquiteto Oscar Niemeyer. A vista onírica do MAC, erguido estrategicamente entre a vegetação tropical que circunda a Baía de Guanabara, comungava com a roupa cheia de recortes circulares, saias enviesadas, fendas sinuosas e babados simulando ondas do mar. Foi uma coleção inspirada no Rio, no Brasil e em Niemeyer, mas de um jeito superdistante dos clichês e totalmente fora do óbvio – com exceção de uma estampa que homenageava o futebol de forma literal.
“Para mim, a questão principal era incorporar elementos que são parte da cultura brasileira, sem esquecer que sou apenas um visitante que carrega suas próprias referências parisienses e francesas”, declarou o diretor criativo da marca, Nicolas Ghesquière. O estilista passou pelas grifes Balenciaga e pela Jean-Paul Gaultier antes de assumir a Vuitton, e lidera hoje um movimento de vanguarda na moda europeia. Ele aposta em uma estética moderna, desmontada, que desafia as convenções do luxo tradicional. Perito em esculpir peças em couro (que remetem às origens da grife francesa, famosa por suas malas e bolsas), Ghesquière investe agora também em tecidos fluidos, na seda, no algodão e em materiais diferentes como o neoprene, que confere um ar despojado à roupa e aos sapatos.
Com peças menos estruturadas do que de costume, ele elegeu também cores vibrantes e alegres em casacos com capuz, tops e vestidos. “A sequência de looks coloridos me fez lembrar do Rio dos anos 1970, do clima meio hippie, meio surfista, que é tão carioca. Olhando as peças, lembrei da imagem do Menino do Rio”, diz a stylist Flavia Lafer. Há ainda uma androginia rondando as criações da Vuitton. Na passarela, meninas com cara de meninos surgiram usando roupas unissex (ou sem gênero). A sensualidade que está em jogo aqui flerta com referências da nossa moda praia. Saias curtas e vestidos recortados, deixando a barriga de fora, foram um dos pontos altos.
Houve também uma menção ao futebol na estampa que reproduz a pintura A Fera (1969), do cearense Aldemir Martins (1922-2006). O desenho traz a imagem de Pelé em ação e decora, inclusive, uma bolsa colocada à venda no site da marca, imediatamente após o desfile. Outro artista que inspirou a coleção foi Hélio Oiticica, ícone do movimento neoconcretista e autor dos famosos parangolés, revistos aqui em vestidos e parkas leves e esportivas.
“As peças esportivas e confortáveis apontam para o futuro. Nas cidades e nos grandes centros, a roupa tem que ajudar, fazer sentido e ser útil. É isso que combina com o lifestyle cosmopolita e corrido das pessoas hoje”, disse Carlos Jereissati Filho, CEO do grupo Iguatemi, que estava na plateia do desfile. Sneakers, sapatos com solados de borracha e sandálias com solado pesado completavam os looks.
Com o passo firme e apressado, as modelos serpenteavam entre os convidados posicionados em uma única fila curvilínea em banquinhos coloridos, com design aparentemente remendado. “Ghesquière queria imprimir no cenário a ideia de algo despojado. Ele ficou encantado com a palavra gambiarra, que reflete um pouco do espírito do carioca de transformar o disponível no essencial”, contou a cenógrafa Daniela Thomas.
A apresentação foi uma operação arriscada para a marca, que chegou a cogitar o seu cancelamento devido à iminente epidemia do vírus zika no Brasil. Depois, tinha outro risco: o da chuva, que havia sido prevista na semana passada e comprometeria bastante o show ao ar livre (a beleza toda estava, justamente, do lado de fora do museu). Até o Cacique Cobra Coral foi convocado para fazer o tempo abrir. No final, o tempo firmou.
Pôr do sol
O desfile começou por volta das 16h. Para Ghesquière, a luz do pôr do sol era um elemento fundamental e não apenas o pano de fundo. Para captar imagens aéreas do desfile foram usados vários drones. “No Rio de Janeiro, o que mais vi foram o movimento e a energia explosiva que se situam em algum lugar entre o modernismo e a tropicalidade. Fiquei fascinado com a constante dualidade entre a natureza e o urbanismo e a explosão pictórica que ela cria”, declarou.
Reunir 500 convidados (acomodados em três grandes hotéis, Copacabana Palace, Fasano e Cesar Park), 50 modelos (só 5 delas brasileiras), um staff internacional vindo da França e de Nova York com 50 pessoas e os vips que representam a marca mundialmente, não pareceu tarefa simples.
Jaden Smith
Depois do desfile, houve ainda um jantar e uma festa no exuberante Parque Lage. O ator Jaden Smith, de 17 anos, que veio especialmente para o evento e enlouqueceu fãs que cercavam o museu, estava animado na pista de dança.
Mas quem deu show mesmo foi a atriz Alicia Vikander, que ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante este ano por seu papel em A Garota Dinamarquesa.
Dançarina formada, Alicia ferveu na pista, comandada pela dupla de DJs Augusto e Milos, da Selvagem. Ela estava com uma trança no cabelo, não usava maquiagem, vestia um longo fluido e estampado de alcinha. Nos pés, sapatos baixos. Era o retrato perfeito de uma grife que desceu do salto e se soltou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.