Estadão

Lucro da Cielo no primeiro trimestre sobe 139% com maior demanda por recebíveis

Enquanto analistas preveem um desempenho menos animador para o setor bancário no primeiro trimestre, o balanço da Cielo no período deu uma pista de onde as grandes empresas do País foram buscar recursos. Com o aperto no crédito desencadeado pelo caso Americanas, a demanda pela antecipação de recebíveis no topo da pirâmide cresceu. Com uma base relevante de clientes neste segmento, a líder em maquininhas se beneficiou, não só em volumes, mas também em resultado.

No primeiro trimestre, a Cielo teve lucro de R$ 440,8 milhões, alta de 139% em um ano e o melhor resultado para esse período do ano desde 2019. O crescimento foi fruto de uma maior rentabilidade, visível em especial no avanço da antecipação de recebíveis, que chegou a 26% do volume processado em cartões de crédito, maior patamar da história da companhia.

Boa parte desse impulso veio do caso Americanas, que não é citado nominalmente pela empresa. Com as operações a grandes empresas sob escrutínio, os bancos deram um passo atrás em linhas de crédito de curto prazo. A antecipação de recebíveis virou a melhor alternativa, porque o risco de inadimplência tende a zero. E a Cielo, que gera recebíveis ao processar transações, colheu os frutos.

"Desde janeiro, estamos vendo uma maior demanda na mesa pela antecipação", disse a jornalistas o CFO e diretor de Relações com Investidores da empresa, Filipe Oliveira. Sem citar o nome da varejista, ele afirmou que a Cielo está posicionada para atender aos clientes se ela continuar.

"O varejo sabe que pode contar com a Cielo, e vai continuar contando", afirmou a analistas e investidores o CEO da empresa, Estanislau Bassols. Ao todo, a Cielo antecipou R$ 32,2 bilhões em recebíveis no primeiro trimestre, alta de 22% em um ano.

O caso Americanas veio em um momento de consolidação de mudanças internas da companhia. Uma das mais importantes foi a união da mesa de recebíveis à da tesouraria, no ano passado, em uma mesma área, o que aproximou quem capta recursos no mercado de quem os aplica em operações financeiras. O objetivo era justamente o de aumentar o peso desses produtos no resultado da Cielo, que era relativamente menor que nas rivais.

"Atribuímos à importante superação (das estimativas) dos lucros principalmente à aquisição de recebíveis, cuja participação no volume atingiu um patamar recorde de 26%, levando as receitas do segmento a crescerem 130% em um ano", escreveu o analista Henrique Navarro, do Santander.

Daniel Federle, do Credit Suisse, destacou que a antecipação fez com que a Cielo superasse as projeções do mercado mesmo com volumes de transação menores que o esperado. "Apesar de volumes pouco animadores, acreditamos que a rentabilidade e as tendências do lucro líquido deveriam levar a reações positivas", escreveu. Após variar entre o positivo e o negativo, a ação da empresa subia 2% há pouco.

Enquanto surfa o cenário desafiador para o crédito, a Cielo começa a experimentar novas fontes de clientes. "Fizemos uma reestruturação da nossa mesa de antecipação ao longo do último ano, e a Cielo tem começado a atuar de forma bastante experimental no balcão de antecipação", disse o CFO na coletiva de imprensa.

<b>Novas baixas

</b>Por outro lado, a base de clientes continuou caindo, com baixa de 10% em um ano. A queda foi parte da "limpeza" natural após o fim dos subsídios na venda de maquininhas, mas a empresa reconheceu que houve baixas entre grandes contas, atraídas para a concorrência por preços mais baixos.

Bassols afirmou que neste topo da pirâmide, a maior parte das perdas veio de seis clientes que geravam margens estreitas para a Cielo. "Eu imagino que eles devem gerar uma margem ainda menor para a concorrência", disse ele aos jornalistas, em afirmação que repetiria depois, aos analistas de mercado.

Analistas calculam que no primeiro trimestre, a Cielo provavelmente perdeu mercado para as rivais Rede, controlada pelo Itaú Unibanco, e Getnet, do Grupo Santander. Ambas têm capital fechado, o que lhes dá maior flexibilidade para baixar preços mesmo em um contexto de juros mais altos. No passado, a líder partiria para a briga, mas os tempos mudaram.

"Nosso movimento continua sendo o de atuar de forma sustentável para a empresa, para os acionistas e para os clientes", afirmou o CEO na coletiva de imprensa. O foco, agora, é mostrar à base que sair da Cielo em busca de preços menores não compensa. Para tanto, a empresa tem investido na melhoria do atendimento, através de tecnologia e de ferramentas de inteligência de dados.

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