No segundo resultado sob gestão do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informou nesta quarta-feira, 16, o resultado consolidado dos primeiros seis meses de 2023. O lucro contábil foi de R$ 9,5 bilhões no semestre, queda de 61% na comparação ao mesmo intervalo de 2022. Já o lucro líquido foi de R$ 3,7 bilhões, 45% menor que em igual período do ano passado, impactado pelas devoluções em 2022, que o presidente do banco, Aloizio Mercadante, voltou a criticar.
Mercadante relembrou que no ano passado foram devolvidos ao Tesouro, antecipadamente, R$ 72 bilhões, com impacto nos resultados do banco de fomento. "Quem tem que desmamar é o Tesouro do BNDES", disse. "Estamos tentando diminuir o montante dos repasses ao Tesouro."
O valor remanescente devido pelo BNDES ao Tesouro Nacional atingiu R$ 45 milhões em 30 de junho, redução de 4,5%. O presidente do banco de fomento afirmou que o BNDES pretende pagar 25% dos lucros em dividendos. E destacou que "a maioria dos bancos de desenvolvimento no mundo não paga dividendos".
<b>Desembolsos</b>
Os desembolsos do BNDES no primeiro semestre chegaram a R$ 40,6 bilhões, um aumento de 22% em relação a igual período de 2022. Quando se acrescenta julho, o índice vai a 31%, indicando a aceleração na rubrica. O acréscimo ocorreu em todos os setores, indicou o banco, com crescimento nominal de 11% na indústria, 17% na infraestrutura, 21% em comércio e serviços e 54% na agropecuária.
"Foi um aumento de 31% enquanto o mercado de capitais teve queda de 37%, e o financiamento à pessoa jurídica no mercado caiu 6,5%", disse o presidente do BNDES, que se mostrou otimista com as projeções de desembolso para o segundo semestre e vê chance de chegarem a R$ 120 bilhões em 2023. "Estamos bastante motivados", disse. "Já temos aumentando os desembolsos em infraestrutura", acrescentou o diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos, Nelson Barbosa.
De janeiro a junho deste ano, as aprovações de novas operações para empresas de menor porte (MPEs) cresceram 53% em relação ao primeiro semestre de 2022, atingindo R$ 18,9 bilhões. Somando-se a isso os R$ 24 bilhões em novos financiamentos a MPMEs de outros agentes financeiros garantidos pelo BNDES FGI, o volume de apoio chega a cerca de R$ 43 bilhões.
Barbosa lembrou que o evento Americanas aumentou a demanda por crédito no BNDES. No primeiro semestre deste ano testemunhou "a maior fraude de empresa privada no Brasil", frisou Mercadante. O escândalo levou a um cenário de aversão a risco no mercado de crédito, com restrições e elevação de custo aos tomadores.
Apesar do desembolso recorde, a carteira de crédito expandida, que inclui financiamentos, debêntures e outros ativos de crédito, ficou estável no primeiro semestre: R$ 479,1 bilhões em 30 de julho deste ano antes R$ 479 bilhões em 31 de dezembro de 2022, representando 67% dos ativos totais.
Da carteira de crédito, 56% estão em ativos verdes e desenvolvimento social, destacou Abreu. Do total dos desembolsos, R$ 7,2 bilhões foram direcionados a sequestro de carbono. Desde 2015, o BNDES ajudou a retirar 100 milhões de toneladas de carbono, equivalente a 32 anos sem carros na cidade de São Paulo. Para o plano safra, a elevação foi de 54%.
Já as consultas cresceram 151% no semestre e chegaram a R$ 126,8 bilhões, disseminadas por todos os setores – com destaque para infraestrutura, que foram de R$ 74,2 bilhões, alta de 175%. A expectativa é de mais avanço com janela de juro mais baixo, disse Barbosa. "Com a queda dos juros, as consultas ao BNDES podem virar projetos de fato."
Os ativos totais do Sistema BNDES somaram R$ 706,8 bilhões em junho último, aumento de 3,4% em relação ao semestre anterior, resultado decorrente do aumento das disponibilidade e do crescimento de R$ 4,2 bilhões, no semestre, no valor justo da carteira de participações societária em não coligadas.
A carteira de participações societárias totalizou R$ 66,4 bilhões ao final de junho, acréscimo de 5,9% no semestre, decorrente do aumento do valor justo dos investimentos em não coligadas. As principais empresas investidas em termos de carteira total seguem sendo Petrobras (48%), JBS (13%), Eletrobras (12%) e Copel (9%).
Segundo o banco de fomento, a inadimplência em até 90 dias ficou em 0,01%, nível em piso inédito e na trajetória inversa à do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Uma taxa de 94,4% das operações foram classificadas nos mais baixos níveis de risco (entre AA e C) no semestre. O porcentual é superior ao do SFN, de 90,8% em 31 de março de 2023, último dado disponível.
O Índice de Basileia fechou o semestre em 34%, melhora de 1,3% em relação ao valor divulgado no balanço trimestral, em função da diminuição do pagamento de dividendos, de 60% para 25%, e do lucro apurado de R$ 9,5 bilhões.
Já o patrimônio líquido do banco atingiu R$ 140,6 bilhões, acréscimo de 7% em relação ao semestre imediatamente anterior, com resultado decorrente do lucro líquido no semestre, além do impacto positivo do ajuste a valor de mercado de ações e títulos públicos.
Em relação às fontes de recursos, o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e o Tesouro Nacional representavam 57,5% e ,67%, respectivamente. Do FAT constitucional ingressaram R$ 11 bilhões, dos quais foram apropriados R$ 8,1 bilhões referentes a juros, líquidos dos pagamentos ordinários, do saldo do Fundo com o banco de R$ 389,5 bilhões em 30 de junho.
O passivo com captações externas foi de R$ 27,1 bilhões, queda de 1,1% no semestre. A entrada de US$ 750 milhões em recursos captados junto ao BID foi compensada pelo efeito da desvalorização do dólar no saldo devedor dos contratos e por amortizações de saldos em aberto, destacando-se o pagamento de R$ 900 milhões junto ao Banco Japonês para Cooperação Internacional.