Mesmo não sendo jornalista de cinema, Luis Fernando Verissimo transformou muitas vezes suas crônicas em críticas memoráveis de obras viscerais como <i>Meu Ódio Será Sua Herança/The Wild Bunch</i>, de Sam Peckinpah, e <i>Os Deuses Malditos</i>, de Luchino Visconti. Estamos falando de filmes dos anos 1960/70. Verissimo nunca deixou de refletir sobre a arte e o mundo. Sempre teve um olhar arguto para o cinema. Ele se recupera do AVC que sofreu no começo de 2021. A Cinemateca Brasileira concedeu-lhe uma carta branca e, de quinta, 8, até o domingo, 11, apresenta sete filmes por ele escolhidos.
A programação especial começa exatamente na quinta, às 20h, com a apresentação ao ar livre, na área externa da Cinemateca, do longa nacional de Andrucha Waddington, <i>Eu Tu Eles</i>. A história – real – de Darlene e seus três maridos. Escrito por Elena Suarez e fotografado pelo futuro diretor Breno Silveira – que morreu este ano -, o filme proporciona belíssimos papéis a Regina Casé e aos atores que interpretam seus maridos – Stênio Garcia, Lima Duarte e Luiz Carlos Vasconcelos. Não seria tão bom sem a trilha de Gilberto Gil, que reinterpreta, musicalmente, clássicos como <i>Esperando na Janela</i>, <i>Asa Branca</i>, <i>Assum Preto</i> e <i>Último Pau de Arara</i>.
Na sexta, às 18h, será a vez do filme surpresa. Para dar um gostinho, vale acrescentar que é produção brasileira recente e muito bem interpretada. De certeza, às 20h, na Sala Oscarito, será a vez de rever <i>Apocalypse Now</i>, o clássico operístico sobre a Guerra do Vietnã que Francis Ford Coppola adaptou livremente de Joseph Conrad, <i>O Coração das Trevas</i>. O monólogo de Marlon Brando como o Coronel Kurtz – O horror, o horror – é uma peça de antologia. O ataque de helicópteros ao som de <i>A Cavalgada das Valquírias</i> virou a mais perfeita representação daquela guerra movida a napalm.
No sábado e domingo, 10 e 11, a programação ocorrerá à tarde. No sábado, às 14h e 16h15, <i>O Sol por Testemunha</i> e <i>Gunga Din</i>. No domingo, às 14h e 16h, <i>A Janela Indiscreta</i> e <i>A Noite Americana</i>. Só quem foi jovem por volta de 1960 pode avaliar o impacto que teve a adaptação de Patricia Highsmith por René Clément, com Alain Delon como o talentoso – e assassino – Ripley.
Gunga Din pode parecer hoje equivocado como celebração do colonialismo, mas como aventura é eterno, um trabalho primoroso de George Stevens. No domingo, às 14h e 16h, <i>A Janela Indiscreta</i> e <i>A Noite Americana</i>. Duas celebrações do cinema. A vida que James Stewart, imobilizado, flagra de sua janela é o próprio cinema revisto pelo mestre do suspense Alfred Hitchcock. François Truffaut revela os bastidores de uma filmagem. Como homem que amava as mulheres oferece papéis inesquecíveis a Jacqueline Bisset e à diva Valentina Cortese.