Mundo das Palavras

LUIZ NÃO MATOU, NÃO ROUBOU. MERECE ATENÇÃO?

Não houve espaço nos grandes meios de comunicação do país para Luiz Guilherme de Godoy, de 28 anos, negro, nascido em Mogi das Cruzes. Afinal o que ele fez não pertence ao cenário de violência urbana e degradação moral na Política, que monopoliza a atenção da nossa grande mídia. Mas, felizmente, a emissora pública de rádio e televisão da Inglaterra, a British Broadcasting Corporation – BBC, mantém, na sua Redação brasileira, jornalistas que se interessam por quem, no País, não mata, nem rouba. Por isto, seu público pôde saber que Luiz se tornou regente de um dos mais importantes corais da História da Música Universal, o Meninos Cantores de Viena, da Áustria. Uma função na qualjá estiveram antes gênios como Wolfgang Amadeus Mozart. Outro indício revelador da importância do coral, respeitado há meio milênio, é o local onde instala, desde 1948, seus integrantes: um dos grandes monumentos histórico-culturais da Europa – o Palácio Augarten, cuja imagem acompanha este texto. Lá eles moram e estudam.
 
A estréia de Luiz no coral, segundo a BBC-Brasil foi festejada pela crítica austríaca. Um dos comentários publicados nos jornais de Viena: "Luiz de Godoy é brasileiro e regeu nessa noite seu primeiro concerto, o qual foi fabuloso, especialmente na segunda parte. O novo mestre de capela já se ambientou precisamente e causou também – no último número, a Valsa do Danúbio -, uma ótima impressão".
 
O ingresso de Luiz no coral se deu através de concurso. Ele já estava na Áustria, havia cinco, atendendo seguidos convites para reger coros infantis, quando se inscreveu na disputa daquela vaga de regente. Mas, o reconhecimento europeu de seu talento só veio depois de uma longa trajetória de sacrifícios pessoais no Brasil, alguns enfrentados no Departamento de Música da USP. Onde, como aluno, ele foi vítima de racismo, como relatou à BBC-Brasil. Num trecho de sua saga que vamos transcrever na próxima semana.  
 
Entre as declarações dadas por Luiz à BBC-Brasil, uma, em especial, mostrou o constraste entre sua história e aquilo que habitualmente ocupa os espaços da chamada Grande Imprensa. Como, por exemplo, o tempo gasto pela Folha de São Paulo, numa transmissão pela internet da participação, num debate, de Kim Kataguiri, colunista do jornal e líder do MBL, favorável ao impedimento da presidenta Dilma. No qual, o colunista classificou as escolas públicas como “verdadeiros centros de recrutamento de traficantes”. Enquanto, Luiz, com orgulho, destacou no seu relato: “Estudei em escola pública a minha vida inteira”.  
 

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