Um dia depois de cancelar o jantar com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman Al Saud, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vai orientar o Itamaraty a convidá-lo para visitar o Brasil. Eles se encontrariam numa residência de luxo próxima a Paris para um banquete oferecido pelo saudita. De última hora, o petista desistiu de ir.
Ao justificar a desistência, Lula repetiu neste sábado, dia 24, o argumento oficial da Presidência da República. A assessoria de Lula informou que o motivo era desgaste físico do presidente por causa da sequência de compromissos na capital francesa.
"Eu sabia que havia uma proposta de reunião com o príncipe da Arábia Saudita que queria discutir investimentos no Brasil. Eu quero conversar com todas as pessoas que querem fazer investimento no Brasil, porque quero saber qual a qualidade do investimento", disse Lula, em entrevista à imprensa antes de decolar de volta ao Brasil.
"Eu simplesmente não tive condições de participar da reunião e vou pedir que o Itamaraty o convoque pra ir ao Brasil discutir negócios com empresários brasileiros. Se a Arábia Saudita tiver interesse em investir, o Brasil terá interesse em conversar com quem quer que seja que eles mandem conversar."
Lula negou que outro tipo de desgaste – a repercussão negativa do encontro nas redes sociais e na política nacional – tivesse levado ao cancelamento. Integrantes da comitiva presidencial, porém, sabiam do custo político e temiam que o jantar associasse Lula a um autocrata cujo regime oprime mulheres e foi acusado de mandar matar um jornalista.
Além disso, foi Bin Salman quem mandou presentear o ex-presidente Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro com joias milionárias, que não foram declaradas à Receita Federal, como revelou o <b>Estadão</b>. Eles se tornaram alvo de uma investigação. "Eu sinceramente não pensei nisso", disse Lula. "Não estou preocupado com joias, isso não é comigo."
A ideia do encontro partira dos sauditas, segundo diplomatas, e embora não estivesse prevista na agenda inicial da viagem de Lula foi incluída oficialmente como compromisso do presidente e depois retirada.