Com duras críticas à Lava Jato e contra a antiga gestão da Petrobras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a se referir ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como “psicopata” ao falar sobre a gestão da estatal nos anos de mandato do ex-chefe do Executivo. Durante participação na cerimônia de retomada dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, nesta quinta-feira, 18, o petista disse que Bolsonaro é um “psicopata que vive da mentira, da maldade, e de ofender os outros”.
Cercado por ministros e aliados, Lula afirmou ainda que a Operação Lava Jato foi orquestrada por “alguns juízes e procuradores deste País subordinados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que não queriam e nunca aceitaram que o Brasil tivesse uma empresa como a Petrobras”.
De acordo com o presidente, a Lava Jato não quis condenar pessoas envolvidas em esquemas de corrupção. Na avaliação dele, o objetivo da investigação era punir a soberania do Brasil e a Petrobras. “Não se pode punir a soberania de um País e sua empresa mais importante.”
“Quando eu deixei a Presidência, eu tive as contas dos meus oito anos de governo aprovadas por unanimidade no Tribunal de Contas e no Congresso. Somente cinco anos depois começou o processo de denúncia contra a Petrobras. Não era contra a Petrobras, porque se você quisesse de fato apurar corrupção, você apurava. O que não pode punir é a soberania de um país como o Brasil e da sua empresa mais importante”, afirmou.
A construção de Abreu e Lima se arrastou por nove anos, de 2005 a 2014 – com um atraso de três anos para o início da operação parcial, antes previsto para 2011. O projeto foi pensado em parceria com a estatal venezuelana PDVSA, inicialmente em um acordo entre o governo petista e o regime do então presidente venezuelano Hugo Chávez.
A obra, contudo, se tornou um dos símbolos das investigações da Operação Lava Jato no escândalo do “petrolão”, esquema de desvio de recursos da Petrobras. A construção foi alvo ainda de processos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e no Tribunal de Contas da União (TCU).
No discurso nesta quinta, Lula disse que a verdadeira história ainda será contada. Segundo ele, muitas vezes, levam anos, décadas ou até séculos para se saber a verdade. “Tudo o que aconteceu neste País foi uma mancomunação entre alguns juízes e procuradores subordinados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras”, acusou.
O petista disse que poderia ter voltado à disputa presidencial no ano de 2014 e que tinha certeza de que venceria o pleito. Porém, afirmou que a então presidente Dilma Rousseff (PT) tinha o direito de concorrer à reeleição.
Ao final da fala, Lula pediu para que o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, descubra todos os funcionários que foram demitidos no processo da Lava Jato para recontratá-los na refinaria.
<b>Relembre a investigação da Lava Jato envolvendo a refinaria Abreu e Lima</b>
Com um custo inicial de R$ 7,5 bilhões, as obras do empreendimento – tocadas pelas empreiteiras Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão – consumiram quase R$ 60 bilhões. De acordo com a delação premiada do ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria da Silva, as obras na refinaria teriam rendido R$ 90 milhões em propinas a ex-executivos da estatal ligados ao PP, ao PT e ao PSB.
A delação se desdobrou em apurações na Justiça Eleitoral e na esfera criminal. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi condenado a sete anos e meio de prisão por organização criminosa e lavagem de dinheiro desviado das obras da refinaria Abreu e Lima. Por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2018, os trechos da delação referentes a fatos supostamente criminosos ocorridos no âmbito da refinaria foram remetidos para a Justiça de Pernambuco, onde tramitam atualmente.
O capítulo da Abreu e Lima abriu as portas do esquema de corrupção e propinas que, segundo Costa, se instalou na Petrobras entre 2003 e 2014. Além de Costa, foram condenados o doleiro Alberto Youssef, peça central da Lava Jato, e outros seis investigados, entre eles o empresário Márcio Bonilho, do Grupo Sanko Sider. Foram fixadas penas que variam entre 11 anos e seis meses de reclusão, em regime inicial fechado, a quatro anos, cinco meses e 10 dias de reclusão, em regime inicial semiaberto.