Cinco dias depois de declarar que a Venezuela "tem mais eleições do que no Brasil" e que o conceito de democracia é "relativo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que o País vizinho tem "problemas". Em pronunciamento após assumir a presidência pro tempore do Mercosul, Lula afirmou que, na democracia, esses "problemas" devem ser enfrentados.
"Em relação à Venezuela, todos os problemas que a gente tiver em democracia, a gente não se esconde deles, a gente enfrenta. Eu não conheço pormenores do problema com a candidata da Venezuela, pretendo conhecer", afirmou o petista. "Temos que conversar. O que não pode é isolar, e levar em conta que apenas os defeitos estão de um lado. Os defeitos são múltiplos. Precisamos conversar com todo mundo", acrescentou.
Lula não citou quais os "problemas" da Venezuela, ditadura aliada do PT marcada por violações de direitos humanos, e reafirmou sua convicção sobre a necessidade de unir o Mercosul. "Durante a minha campanha, a gente criou o lema ninguém larga a mão de ninguém , declarou.
Na semana passada, em entrevista a uma rádio, Lula defendeu o regime de Maduro. "A Venezuela tem mais eleições do que o Brasil. O conceito de democracia é relativo para você e para mim", disse o presidente à Rádio Gaúcha.
Nesta terça-feira, 4, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, também saiu em defesa da Venezuela explicitamente. Ele criticou os países que pedem condenações à ditadura. "Problemas da Venezuela pertencem aos venezuelanos, países não devem se intrometer em questões internas dos outros. Se querem realmente ajudar a Venezuela, voltem à mesa de diálogo", disparou o peronista.
"Quero lembrar que nós tivemos dentro do grupo de Lima uma compreensão clara da ingerência da Venezuela, que não iria resolver os problemas que a Venezuela tampouco tinha. A quantidade de exilados que tem a Venezuela é resultado das sanções econômicas que a Venezuela tem sofrido", seguiu Fernández, cutucando o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, crítico da Venezuela.
Em meio às reclamações do Uruguai sobre o protecionismo do Mercosul, Lula prometeu, à frente da presidência pro tempore do bloco, fazer um "esforço imenso" para diminuir a demanda dos países-membros. "Se uma demanda leva muito tempo, vira coisa amarga, desagradável", avaliou. "Quero dar um salto de qualidade no funcionamento do Mercosul", acrescentou, prometendo "lealdade e dedicação" para o crescimento do bloco.
<b>Consolidar democracia é tarefa permanente </b>
O presidente brasileiro evitou fazer a costumeira defesa da ditadura da Venezuela e afirmou que "consolidar a democracia será uma tarefa permanente".
"Vamos propor a reinstalação do Foro Consultivo de Municípios e Estados Federados e realizar a Cúpula Social em formato presencial", disse o petista no fórum."Estou convicto que a construção de um Mercosul mais democrático e participativo é o caminho a trilhar", acrescentou.
Para Lula, é "urgente" renovar o compromisso do Mercosul com o Estado de direito. "Como presidentes democraticamente eleitos, temos o desafio de enfrentar todos os que tentam se apropriar e perverter a democracia", declarou.
"Só a unidade do Mercosul, da América do Sul e da América Latina e do Caribe nos permitirá retomar o crescimento, combater as desigualdades, promover a inclusão, aprofundar a democracia e garantir nossos interesses em um mundo em transformação", acrescentou o petista.
Lula prometeu em Puerto Iguazú se empenhar pessoalmente pela entrada da Bolívia do Mercosul, travada também no Congresso brasileiro, mas não citou a vontade da Venezuela em retornar ao bloco. Hoje, a ditadura de Nicolás Maduro está suspensa do Mercosul, mas quer voltar a ele e tem o apoio de Lula, o que hoje não foi explicitado.
O presidente tem sido criticado por defender a ditadura da Venezuela, sua aliada na América do Sul. Na semana passada, Lula disse que democracia é algo relativo, fala que repercutiu negativamente nas redes sociais e até mesmo entre aliados.