O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai abrir espaço para o grupo de Arthur Lira (PP-AL) no primeiro escalão do governo. A garantia foi dada ontem por Lula, em reunião com o presidente da Câmara, no Palácio da Alvorada. Na conversa, Lula se comprometeu a tratar do assunto no retorno de sua viagem internacional.
Como mostrou o <b>Estadão</b>, uma ala do PP, partido de Lira, quer comandar o Ministério da Saúde. Lula resiste a entregar a pasta, hoje ocupada por Nísia Trindade, mas admite ceder cargos nessa estrutura. Além disso, o presidente decidiu substituir a ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União-RJ) pelo deputado Celso Sabino (União-PA), aliado de Lira. Lula e Sabino vão se encontrar hoje em Belém (PA).
Para justificar a troca, o governo usa o argumento de que Daniela já pediu a desfiliação do União Brasil, partido que hoje comanda três ministérios. Aliados de Lira observam, no entanto, que a mudança envolve uma pasta com orçamento pequeno, o Turismo, e cobiçam espaço maior no primeiro escalão.
Em mensagens no Twitter após o encontro de ontem, Lira afirmou que esteve no Palácio da Alvorada, a convite de Lula, para discutir pautas destinadas ao crescimento do País, especialmente a reforma tributária e o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). "Não se falou de mudanças no Ministério do presidente Lula", escreveu o presidente da Câmara.
<b>MEDIDAS PROVISÓRIAS</b>
Lira disse ter ouvido de Lula a intenção de reduzir o envio de Medidas Provisórias, definidas por ele como "um anseio do Congresso Nacional". Foi o segundo encontro entre os dois en 11 dias. Após ameaçar não pautar projetos de interesse do Palácio do Planalto enquanto o governo não resolvesse o problema da articulação política, Lira adotou tom conciliador no Twitter. Disse que a reunião entre ele e Lula ocorreu agora porque os dois vão viajar e ficariam cerca de 15 dias sem se encontrar. O presidente tem compromissos na Itália e na França, na próxima semana, e Lira estará em Portugal, a partir de quarta-feira.
"Tratamos do bom momento da economia brasileira, a intenção de trabalharmos juntos pelo país, e as recentes aprovações de matérias pela Câmara dos Deputados com esse objetivo", destacou o deputado.
Horas antes, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o governo fará uma força-tarefa com o objetivo de destravar nomeações para cargos nos Estados e monitoramento semanal. Pelos seus cálculos, há 403 indicações pendentes, feitas por partidos, que não foram nem inseridas pelos ministérios no Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc).
Padilha e Rui Costa, ministro da Casa Civil, vêm disputando influência sobre as nomeações políticas. No Congresso, a culpa pela demora nas indicações é atribuída a Costa.
O ministro das Relações Institucionais disse que esse foi um encaminhamento da reunião ministerial de anteontem. Segundo ele, a coordenação desse esforço será de seu ministério.
"Mas a composição partidária não está em discussão em relação ao Ministério da Saúde", destacou ele. "Há outros ministérios que foram discutidos com a composição partidária, que é parte da democracia. O Ministério do Turismo é um exemplo disso", completou Padilha, um dos fiadores de Nísia Trindade no governo.
<b>BEIJA-MÃO</b>
Ainda ontem, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, visitou Lira na residência oficial da Câmara. Anteontem, foi a vez de Rui Costa, conversar com o presidente da Câmara.
O "beija-mão" não foi à toa. Em seis meses de gestão, Lira conseguiu transformar Lula em refém de sua agenda. Com apenas 140 votos da esquerda e o espectro político de centro dividido, sem dar segurança nas votações, o governo não consegue aprovar nenhum projeto de lei se não tiver apoio do Centrão.
Em conversa com Rui Costa, na quarta-feira, o líder do União Brasil, Elmar Nascimento, disse que o governo precisa atender o chamado "blocão" nas trocas ministeriais para ampliar sua base de sustentação na Câmara. Ao Estadão/Broadcast, Elmar afirmou apenas ter relatado ao ministro a necessidade de o governo corrigir falhas na articulação política. "Para bom entendedor, meia palavra basta", disse ele.
O Centrão liderado por Lira se movimenta há algumas semanas para controlar o Ministério da Saúde, que foi por muito tempo feudo político do PP e tem um orçamento de R$ 188,3 bilhões neste ano.
Na prática, o PP mudou de estratégia para conseguir o comando da Saúde. O partido fez chegar ao governo que poderia apadrinhar um nome "técnico" para a pasta. A ideia é indicar alguém do setor, e não mais um político, como forma de reduzir a resistência de Lula. Uma ala da bancada, porém, defende a nomeação do deputado Dr. Luizinho (PP-RJ), que também é médico.
A atual ministra Nísia Trindade, ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), não é ligada a nenhum partido e deputados têm reclamado da falta de interlocução com ela, até mesmo do PT. Há queixas, ainda, de demora na liberação de emendas parlamentares por parte do Ministério da Saúde.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>