O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a guerra entre Israel e o grupo Hamas decorre, em parte, "de décadas de frustração e injustiça" vivenciadas pela Palestina, representada pela ausência de um "lar seguro" aos cidadãos. Na avaliação do brasileiro, o plano "Iniciativa Árabe de Paz", em que diz que Israel deveria desocupar todos os territórios tomados em 1967, parece um bom ponto de partida para a resolução do conflito.
As declarações ocorreram em discurso na Cúpula Virtual Extraordinária do Brics nesta terça-feira, 21. A íntegra da fala de Lula foi divulgada pelo Palácio do Planalto após a participação do chefe do Executivo, que não contou com transmissão ao vivo.
De acordo com o brasileiro, é imprescindível e valiosa a atuação do grupo dos Brics em sua nova configuração, após incorporação de mais seis países como membro, na "autocontenção" e redução da escalada do conflito. Para isso, Lula chamou atenção para dois pontos específicos da guerra.
De acordo com o petista, o grupo deve atuar para que o combate não se alastre aos países vizinhos. Nesse sentido, Lula citou a importância de uma negociação diplomática "justa". "O Brasil não acredita que a paz seja criada apenas pela força das armas", comentou.
O segundo ponto de atenção é para o peso histórico do conflito. "Não podemos esquecer que a guerra atual também decorre de décadas de frustração e injustiça, representada pela ausência de um lar seguro para o povo palestino", comentou. "É fundamental acompanhar com atenção a situação na Cisjordânia, onde os assentamentos ilegais israelenses continuam a ameaçar a viabilidade de um Estado palestino."
Na avaliação do presidente, a única solução possível para a guerra é reconhecimento de um Estado palestino "viável", que viva lado a lado com Israel, mas com "fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas". "A Iniciativa Árabe para a Paz, apresentada pela Arábia Saudita e adotada pela Liga dos Estados Árabes em 2002, nos parece um excelente ponto de partida", defendeu. "Precisamos retomar com a maior brevidade possível o processo de paz entre Israel e Palestina."
Apesar de, no discurso, Lula condenar os atentados terroristas do grupo Hamas em 7 de outubro, ele voltou a dizer que o episódio não justifica o uso "de forma indiscriminada e desproporcional" de Israel contra civis. Segundo Lula, o mundo está diante de uma "catástrofe humanitária" e que inocentes, sobretudo mulheres, idosos e crianças, pagam o preço pela insanidade da guerra.
O brasileiro voltou a condenar a paralisia do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e o poder de veto de membros permanentes da resolução proposta pelo País à frente da presidência do órgão, em outubro. "A paralisia do conselho é mais uma demonstração da urgência da sua reforma", voltou a defender.
"Só em 15 de novembro último, mais de 40 dias depois do início dos conflitos, o Conselho de Segurança finalmente aprovou uma Resolução que foca em um dos objetivos mais essenciais de toda ação humanitária: a proteção de crianças", disse. "Neste momento, o desafio é fazer com que a trégua humanitária determinada pela Resolução seja implementada imediatamente. Novamente, a credibilidade das Nações Unidas está em jogo."
Lula terminou a fala reiterando a importância do Brics para a solução da guerra no Oriente Médio. "Estou convencido do potencial deste grupo para mobilizar as forças políticas e diplomáticas em favor da resolução pacífica de controvérsias", disse. "O Brasil seguirá pronto a apoiar todas as iniciativas que levem a uma solução política para esse conflito."