O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que retoma esta semana à coordenação da transição em Brasília, afirmou que o novo governo "terá mais gente da sociedade, mais gente de outros partidos e mais gente sem partido nenhum". "Aprendemos a ganhar e a saber que novo governo não pode ser só do Partido dos Trabalhadores", disse Lula para uma plateia de apoiadores no auditório do Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal.
No discurso, o presidente eleito mencionou o tema fiscal. "Nós sabemos que temos que ter responsabilidade fiscal. Sabemos que não podemos gastar tudo o que a gente ganha. Mas sabemos também que nós podemos gastar para fazer alguma coisa que tenha rentabilidade para fazer o País crescer, melhorar do ponto de vista logístico", disse.
Ontem, em seu primeiro dia de visita a Portugal, Lula também falou do tema fiscal, em uma semana marcada por estresse no mercado financeiro por causa da preocupação com o aumento de gastos em seu futuro governo. O petista disse não haver nenhuma razão para medo. "Ninguém tem autoridade para falar de política fiscal comigo", disse o petista. Lula destacou que em todos os seus anos de governo o País fez superávit primário. O presidente eleito reiterou que o País voltará a ser responsável do ponto de vista fiscal "sem precisar atender tudo que o sistema financeiro quer".
Lula prometeu "trabalhar 24 horas por dia" para oferecer condições econômicas para que os mais de 250 mil brasileiros que migraram oficialmente para Portugal nos últimos anos possam retornar "com orgulho" ao País. "Eu espero que o Brasil esteja de braços abertos para receber vocês", disse. "Às vezes eu fico triste quando vejo brasileiros e brasileiras morando em outros países porque não conseguiram encontrar uma oportunidade de emprego".
Ao lado de Fernando Haddad, seu ex-ministro da Educação, Lula afirmou que dará prioridade à área. "Dizem que o Lula vai gastar na educação; não vou gastar, vou investir. Porque esse é o melhor investimento que um governante pode fazer", discursou.
O presidente eleito prometeu que o novo governo vai "digitalizar o País" para, entre outros objetivos, permitir que escolas públicas coloquem em dia a aprendizagem das crianças, sobretudo as mais pobres, prejudicada pela falta de aulas durante os dois anos de pandemia. Ele criticou o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) por ter tido "um ministro da Educação que achava que a universidade devia ser para poucos".
Lula disse que seu terceiro mandato será para "cuidar das pessoas" e afirmou ter um compromisso com o fim da fome. Ele disse ainda que pretende que a população alcance um melhor padrão de vida, "com decência e com o essencial". "Não vou falar de picanha porque não sei se tem esse corte em Portugal", brincou.
O presidente eleito também agradeceu a "votação esmagadora" que teve em Portugal. Por fim, terminou o discurso com um apelo para que os brasileiros parem de brigar em família por causa de política. Ele pediu ainda a seus apoiadores que não aceitem provocações de "bolsonaristas fanáticos e sem argumentos" e lamentou que as redes sociais tenham se transformado, em sua visão, em um território "do mal".
Diante de um grande público feminino, chamou sua mulher, Rosângela da Silva, a Janja, à tribuna no início do evento. Em cerca de dois minutos, a futura primeira-dama afirmou que o governo Lula dará especial "atenção e carinho" às mulheres, sobretudo às mais desfavorecidas socialmente.