No primeiro pronunciamento após a eleição de Dilma Rousseff (PT), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não pretende interferir na gestão de sua sucessora e pediu para que a oposição olhe mais pelo Brasil e não faça a “política da vingança que fizeram com ele”. Neste sentido, tenta descolar sua imagem da sucessora, contrariando a expectativa da maioria dos brasileiros que a elegeram. Sim, Dilma foi eleita na esteira de Lula. Fosse diferente, jamais conquistaria o posto. Para Lula, que adora metáforas, rei morto é rei posto. “Eu falei que ia dar uma lição de como se comporta um ex-presidente da República. Um ex-presidente poderá dar algum conselho se algum dia for pedido, mas para trabalhar nunca”. Lula ressaltou ainda que Dilma é diferente dele. “Ela tem toda a capacidade para montar uma equipe preparada e coesa para o próximo governo, até porque ela conhece mais gente do que conhecia quando assumi o governo”. Em relação a oposição, Lula quer que se dê um tempo para a nova presidente mostrar trabalho. “Queria pedir a oposição que, a partir do dia 1º de janeiro, olhasse mais um pouco para o Brasil e que ajudasse a dar certo o Brasil. Eu sei que quando a gente é derrotado, ficamos chateados e com um espírito de vingança. Não vou falar em unidade nacional, pois essa palavra está queimada e mal usada. Peço para que a oposição não faça contra Dilma o que fizeram comigo, a política da vingança”. Neste sentido, Lula se esquece que foi justamente a omissão dos partidos de oposição nos últimos anos que facilitou a campanha vitoriosa de Dilma. Afinal, nos últimos oito anos foram poucos os momentos em que PSDB e DEM, tidos como as principais siglas anti-PT, em nível federal, atrapalharam as matérias de interesse do Planalto. Ao contrário disso, as eleições mostraram isso, houve uma verdadeira letargia e mesmo complacência com a imagem de onipotência criada em torno de Lula. Este fato pode ser muito bem ilustrado na primeira propanda de José Serra (PSDB) que foi ao ar no programa eleitoral gratuito, onde a imagem do atual presidente aparecia com destaque. Para muita gente, o candidato do PSDB perdeu para a própria incompetência da oposição, que não agiu como tal nos últimos oito anos. Diferente deste pleito de 2010, quando o PT ganhou e vai para 12 anos seguidos de mandato, em 2002, quando Serra deveria defender a continuidade do governo de Fernando Henrique Cardoso, não agiu dessa forma e perdeu. Por essas questões mal resolvidas que existem na política, o candidato de 2002, como agora, tentou esconder o ex-presidente, como se as conquistas do Brasil, em decorrência do Plano Real, não valessem nada. Neste sentido, Lula soube aproveitar muito bem a estabilidade econômica que herdou, investindo maciçamente em programas sociais, com grande apelo popular, como é o Bolsa Família, sem o verdadeiro enfrentamento da oposição, que agora – mais uma vez – quer ver distante de sua cria. Provavelmente, pelo fascínio que exerce tanto entre os aliados como entre os desafetos, Lula deve fazer valer sua vontade.