O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em entrevista ao jornal espanhol <i>El País</i> divulgada em seu perfil nas redes sociais, comparou a permanência no poder do latino-americano Daniel Ortega, que está em seu quinto mandato e instalou uma ditadura na Nicarágua, com a da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, que completou 16 anos à frente do país europeu.
"Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não? Qual é a lógica?", questionou Lula diante das jornalistas que o questionavam sobre a situação da Nicarágua. No início de novembro, Ortega venceu eleições consideradas ilegítimas pela Organização dos Estados Americanos (OEA). O mandatário, no poder desde 2007, mandou prender sete de seus opositores antes que a população fosse às urnas, eliminando candidatos que pudessem ameaçar sua vitória.
Logo após a eleição, o secretário de Relações Internacionais do PT, Romenio Pereira, divulgou uma nota na qual celebrava a vitória de Ortega e classificava a eleição no país como "uma grande manifestação popular e democrática". O texto também dizia que a eleição era a tradução do apoio da população a um projeto político que tem como principal objetivo a construção de um "país socialmente justo e igualitário" e afirmava que a vitória de Ortega ocorreu "apesar das diversas tentativas de desestabilização do governo e do bloqueio internacional contra a Nicarágua e seu atual governo".
No dia seguinte, diante da repercussão negativa da nota, a presidente nacional do partido, Gleise Hoffmann (PR), defendeu o PT das críticas, mas disse, por meio de um tuíte, que a nota assinada por Pereira não havia sido submetida à direção partidária. Ao desautorizar o secretário, a deputada federal ainda reforçou que a intenção do PT agora é debater o País, revelando preocupação com a posição revelada da legenda.
Durante a entrevista, ao ser questionado por uma jornalista sobre o fato de Ortega mandar opositores para a prisão, Lula afirmou que "não pode julgar o que acontece em outros países" e conduziu o assunto para sua própria prisão. Segundo o ex-presidente, sua condenação na Operação Lava Jato teve o intuito de facilitar o caminho do presidente Jair Bolsonaro ao Planalto. "No Brasil, fiquei 580 dias na cadeia para que o Bolsonaro fosse eleito. Eu não sei o que as pessoas fizeram para ser (sic) presas. Eu sei que eu não fiz nada", afirmou.
Em seguida, o petista disse que não conhece detalhes das prisões citadas e afirmou: "Se o Daniel Ortega prendeu a oposição para não disputar a eleição como fizeram no Brasil contra mim, ele está totalmente errado. Na mesma resposta, Lula ainda disse ser a favor da alternância de poder e se contradisse. "Todo político que começa a se achar imprescindível ou insubstituível começa a virar um pequeno ditador." E completou: "Por isso, sou favorável à alternância de poder. Eu posso ser contra, mas eu não posso ficar interferindo nas decisões de um povo. Nós temos que defender a autodeterminação dos povos."
<b>Cuba</b>
Lula também foi questionado sobre os protestos políticos recentes ocorridos em Cuba, cujo governo ditatorial também é minimizado pelo petista. As jornalistas do <i>El País</i> o questionaram sobre o fato de o governo cubano ter proibido manifestações da oposição e as combatido com violência, apelando até mesmo para a ocupação das ruas por militares. A população protesta contra a crise energética e a falta de alimentos e remédios desde a metade do ano. Lula respondeu dizendo que a repressão feita pela polícia é "violenta no mundo inteiro".