O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, nesta sexta-feira, dia 1º, em Kingstown, São Vicente e Granadinas, onde ambos participaram da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
O chavista divulgou amplamente fotos e vídeos do encontro nas redes sociais. Mas não o teor completo da conversa reservada. Eles conversaram por uma hora e dez minutos. Maduro despediu-se de Lula dizendo que a reunião havia sido "maravilhosa", que se reencontrariam em breve e enviando cumprimentos à família do petista.
Segundo a TV oficial venezuelana, eles discutiram temas de cooperação técnica em agricultura e pecuária, entre outros. Maduro afirmou ao fim do encontro que a reunião foi "muito boa" e que discutiu com Lula sobre ampliar a cooperação e os investimentos, além de promover um encontro de empresários.
"Avançaremos e venceremos", disse Maduro, em breve declaração veiculada pela <i>GloboNews</i>.
A reunião ocorre após o regime chavista ampliar a repressão a críticos e opositores. O governo brasileiro admitiu a preocupação com o recrudescimento, mas evita críticas públicas. Fontes diplomáticas dizem que, a portas fechadas, Lula falaria sobre a necessidade de realização de eleições em condições de igualdade entre Maduro e opositores.
As eleições estão previstas para o último bimestre, mas as datas não foram oficialmente anunciadas pelo regime chavista.
Maduro indicou que pode não seguir os Acordos de Barbados, compromisso que prevê eleições justas e com a presença de observadores internacionais na Venezuela. Em janeiro, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) confirmou que María Corina Machado, principal nome da oposição, está inelegível por 15 anos.
O impedimento da líder opositora levou os Estados Unidos a impor de volta algumas sanções que haviam sido relaxadas com o acordo de Barbados.
A agenda do presidente brasileiro nesta sexta-feira também prevê reuniões bilaterais com o presidente da Bolívia, Luis Arce, e com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Mais cedo, Lula destacou a presença de Guterres na Cúpula ao propor uma moção da Celac pelo "fim imediato do genocídio" na Faixa de Gaza onde, nas palavras do petista, Israel impõe uma "punição coletiva aos palestinos".
<b>Cúpula marcada por presença de líderes de esquerda</b>
A Cúpula em São Vicente e Granadinas tem sido marcada pela presença maciça de líderes de esquerda. Além de Lula, Maduro e Arce, também participam do encontro o colombiano Gustavo Petro e o cubano Miguel Díaz-Canel.
Já os líderes de direita e centro-direita da região, como Javier Milei, da Argentina, Daniel Noboa, do Equador, Santiago Peña, do Paraguai, e Luis Lacalle Pou, Uruguai, estiveram ausentes da Cúpula.
<b>Essequibo</b>
O presidente Lula já havia antecipado que não aprofundaria a discussão sobre a disputa secular entre Venezuela e Guiana pela região do Essequibo no encontro com Nicolás Maduro. Contudo, afirmou que diria a Maduro da intenção do Brasil de continuar mediando uma solução pacífica entre os dois países.
"Esse assunto não pode ser esquecido porque é quase secular, já tem 100 anos, já passou Justiça, já passou pela ONU e vai continuar. O que vamos trabalhar é para que seja motivo de muita conversa e que possamos encontrar uma solução da forma mais amigável possível. Vou falar (isso) para o Maduro. Se em 100 anos não foi possível resolver o problema, é possível a que gente leve mais algumas décadas. A única coisa que tenho certeza é que a violência não resolverá esse problema, criará outros problemas", afirmou o petista.
A crise veio à tona no fim do ano passado, quando os venezuelanos aprovaram em referendo a anexação do território. Uma promessa de que os lados evitariam ações militares, no entanto, baixou a tensão.
Durante a Cúpula da Celac, o perfil oficial da Venezuela nas redes sociais publicou vídeos em que Maduro aparece cumprimentando e trocando presentes com o presidente da Guiana, Irfaan Ali.
Antes do encontro em São Tomé e Granadinas, Lula passou por Georgetown, onde se reuniu com Ali na quinta-feira, 29. Lula disse que a América do Sul deve ser uma zona de paz e que o governo vai trabalhar para evitar uma guerra em seu entorno imediato.