O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta terça, 20, as discussões recentes sobre a possibilidade de o Brasil adotar um sistema semipresidencialista. A alteração no sistema de governo para dar mais poder ao Congresso e criar a figura do primeiro-ministro a partir de 2026 tem sido defendida pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O <b>Estadão</b> mostrou que a discussão é uma estratégia para tentar aliviar a pressão pela abertura de processso de impeachment contra Jair Bolsonaro (sem partido).
"Semipresidencialismo é outro golpe pra tentar evitar que nós possamos ganhar as eleições", afirmou Lula à rádio Jovem Pan. É a primeira manifestação do ex-presidente sobre o tema. "Não dá pra brincar de reforma política, isso é coisa que tem que ser discutida com muita seriedade. Tem 32 partidos e cada um tem um interesse específico nas eleições de 2022. Cada um quer saber da sua vida, quanto vai render o fundo eleitoral… Precisamos de uma reforma na mentalidade politica do país, pensarem no Brasil, e não no próprio umbigo."
O modelo semipresidencialista mantém a figura do presidente, eleito pelo voto direto, mas delega a chefia de governo ao primeiro-ministro. É ele quem nomeia e comanda toda a equipe, o chamado "Conselho de Ministros", incluindo nesse rol até mesmo o presidente do Banco Central. Integrantes de partidos de esquerda têm interpretado a discussão como uma forma de prejudicar Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto para 2022.
"O impeachment sem crime, a fraude eleitoral de 2018 e o semipresidencialismo são três atos da mesma peça de teatro. A vítima é a mesma: a soberania popular. Imagine o Congresso escolher o chefe de governo", disse o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), foi na mesma linha: "A história ensina a respeitar a soberania do povo. E no Brasil é o presidencialismo que corresponde a isso. Chega de golpes", afirmou.
<b>História: em plebiscitos, brasileiros escolheram o presidencialismo em 1963 e em 1993</b>
O Brasil já realizou dois plesbiscitos – em 1963 e em 1993 – para que a população pudesse escolher sobre qual sistema político viveria. Sistemas não-presidencialistas foram rejeitados nas duas ocasiões.
Após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, devido à pressão de grupos que eram contrários à posse de João Goulart, vice de Jânio, o Congresso implantou o sistema parlamentarista para impedir que as tensões políticas deflagrassem uma guerra civil. A emenda institucional nº 4, que instaurou temporariamente o parlamentarismo no Brasil, previa a realização de um plebiscito sobre a permanência deste sistema político, ou o retorno ao presidencialismo. De um eleitorado de 18 milhões de pessoas, 11, 5 milhões votaram no plebiscito. O resultado determinou a volta ao sistema presidencialista, por 9,4 milhões de votos contra 2 milhões.
Em 1993, como previa a Constituição de 1988, uma consulta pública sobre a forma de governo foi realizada após a redemocratização. A população pôde escolher entre um regime republicano ou monárquico, dentro de um sistema presidencialista ou parlamentarista. Com 55% dos votos, o presidencialismo foi confirmado como a escolha da maioria. O parlamentarismo teve 25% dos votos e a monarquia, 10%.