O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva vai se reunir na segunda-feira, dia 5, com uma comitiva da Casa Branca enviada a Brasília pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Lula definirá uma data para viajar aos Estados Unidos e se encontrar com chefe do Executivo dos EUA antes mesmo da posse, em 1º de janeiro do ano que vem. A ida a Washington deve ocorrer somente após a diplomação no Tribunal Superior Eleitoral, em 12 de dezembro, segundo Lula.
No encontro com os norte-americanos, o petista estará acompanhado do senador Jaques Wagner (PT-BA), que já foi apontado como cotado para assumir o Itamaraty. Em conversas em Brasília, o próprio Lula indicou, no entanto, que o chanceler brasileiro será o embaixador Mauro Vieira.
Além do diplomata, Lula disse a interlocutores que pretende nomear o ex-prefeito Fernando Haddad para comandar o Ministério da Fazenda, o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA) para o Ministério da Justiça e o ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro, para a Defesa.
Jaques Wagner foi ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff e também participa das decisões na área, adiadas por Lula. Além disso, atua na interlocução no Congresso e também nas discussões do Centro de Governo, que espelha a formação dos órgãos que compõem o Palácio do Planalto.
Na agenda bilateral, estão ameaças internas à democracia, assuntos climáticos e cooperação, além do posicionamento do Brasil em relação à Guerra na Ucrânia. Washington sempre pressionou por manifestações do Brasil mais duras em relação à Rússia, que invadiu o país vizinho no Leste Europeu. Lula, no entanto, fez críticas na campanha aos dois países envolvidos no conflito militar, que completará um ano em fevereiro do ano que vem.
"Os Estados Unidos padecem de uma necessidade democrática tanto quando o Brasil. O estrago que Trump fez na democracia americana é o mesmo que Bolsonaro fez no Brasil. O pensamento do Trump, o comportamento é o mesmo do nosso presidente aqui. Vamos conversar sobre política, a relação Brasil – Estados Unidos. Quero conversar o papel do Brasil na nova geopolítica mundial, quero falar com eles da guerra da Ucrânia, não há necessidade de ter guerra", antecipou Lula, nesta sexta-feira, dia 2.
Biden despachou a Brasília o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, e funcionários do Conselho de Segurança Nacional e do Departamento de Estado. Entre eles, está Juan S. Gonzalez, assessor especial de Biden e diretor-sênior para o Hemisfério Ocidental, no conselho.
Conforme a Embaixada dos Estados Unidos, Sullivan também manterá contatos com o governo Jair Bolsonaro. Ele se reunirá com o secretário de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Rocha, que trabalha no Palácio do Planalto e coordena parte da inserção internacional de Bolsonaro.
"Durante as reuniões, Sullivan discutirá como os Estados Unidos e o Brasil podem continuar a trabalhar juntos para enfrentar desafios comuns, incluindo mudanças climáticas, segurança alimentar, a promoção da inclusão e da democracia e a gestão da migração regional", disse a embaixada. "As reuniões seguem o telefonema do presidente Biden ao presidente eleito Lula em outubro de 2022, onde o presidente se comprometeu a manter abertos os canais de comunicação entre os dois países durante a transição."
Diplomatas americanos sugeriram que a vice-presidente Kamala Harris seja a representante de Biden na posse de Lula. Embora ainda não tenha sido confirmada a presença dela, a preparação é para que isso ocorra. O Departamento de Estado entende que o Brasil deve receber mais atenção do ponto de vista político, por isso a necessidade de se fazer presente com a representante de mais alto nível. A praxe na diplomacia norte-americana é que o vice seja a autoridade mais importante a prestigiar cerimônias de posse em outros países – e não o chefe de Estado.
Lula voltará a Brasília no domingo, dia 4, para se preparar para o encontro com os enviados de Biden, além de mais negociações em Brasília. Um dos temas deve ser as negociações entre os lados políticos na Venezuela, realizadas no México, com vistas à promoção de eleições no país. Lula já indicou que retomará as relações com o governo Nicolás Maduro, a quem convidou para a posse, embora haja entraves à entrada dele no Brasil em vigor.
Outro, a participação ou não do Brasil numa nova empreitada para intervir no conflito interno do Haiti. Há resistências em Brasília tanto do governo Jair Bolsonaro, quanto de nomes fortes do futuro governo Lula. Os Estados Unidos e a Organização das Nações Unidas querem não só o apoio do ponto de vista político, mas também o engajamento brasileiro, que liderou uma missão militar da ONU, em uma nova operação de caráter policial.