Estadão

Lula: zerar desmatamento é questão de honra; gente predadora quer plantar em matas nativas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva associou produtores de grãos, como soja e milho, e de gado ao desmatamento de matas nativas do Brasil, em discurso na França. A líderes internacionais, Lula afirmou que sua meta de zerar a derrubada de árvores até 2030 virou uma "questão de honra".

"A questão climática não é uma coisa secundária, por isso o Brasil vai levar a cabo o controle do desmatamento. Por isso vamos colocar como questão de honra e até 2030 a gente acabar com o desmatamento na Amazônia. O Brasil tem 30 milhões de hectares de terras degradadas, não precisa cortar uma árvore para plantar um pé de soja, de milho ou criar gado. É só recuperar as terras degradadas", disse o presidente, ao discursar na cúpula do Novo Pacto Financeiro Global.

Lula disse que, especificamente na Amazônia, além de produtores rurais a floresta é degradada por atividades criminosas e pelo garimpo.
"Nessa região nós enfrentamos muitas adversidades, o garimpo, o crime organizado e muitas vezes pessoas de má-fé que querem tentar que nessa floresta se plante soja, se plante milho e se crie gado, quando na verdade não é necessário fazer isso. Os empresários responsáveis sabem que é errado e que vai causar um problema muito sério aos produtos que eles têm que vender aos outros países", disse o petista, em recado ao agronegócio nacional.

Embora empresas brasileiras sejam líderes nos três produtos, elas enfrentam obstáculos no mercado global porque o cultivo e a criação são frequentemente associados ao desmatamento.

A União Europeia aprovou lei que bane de seu mercado interno, de 27 países, produtos agrícolas provenientes de área desmatada. A linha de corte para verificação é 2021 em diante.

A França é o país mais resistente ao acordo comercial do Mercosul com a União Europeia, por causa do perfil agrícola se sua economia e da cobrança por proteção do mercado. Lula vai tratar do assunto também em almoço de trabalho com o presidente Emmanuel Macron, patrono da cúpula.

"Não temos apenas a Amazônia para cuidar, temos o bioma do Cerrado, a Caatinga, o Pantanal e a Mata Atlântica. São cinco grandes biomas que temos de cuidar porque todos eles são vítimas de ataques todo ano. Ora por fogo, ora por excesso de chuva, ora por gente predadora que quer plantar lá o que não se deve plantar", queixou-se o presidente brasileiro.

Lula voltou a dizer que pretende articular com a República do Congo e com a Indonésia uma proposta única para receber pagamentos por preservação florestal. A ideia é apresentar o formato na COP-28, nos Emirados Árabes Unidos.

O presidente vai articular o grupo do Tratado de Cooperação Amazônica com Congo e Indonésia. O conceito é que as florestas virem um "patrimônio econômico" dos povos que vivem na Amazônia e que países ricos paguem pela manutenção da "floresta em pé", como forma de recompensar pela emissão histórica de gases estufa.

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