Luta atual em defesa da floresta amazônica

Quando a Globo, a produtora Maria Farinha Filmes e o estrelado elenco de Aruanas começaram a gravar a série, em 2018, a pandemia ainda era um pesadelo reservado aos livros de ficção científica. Quando a série estreou no Globoplay, em julho de 2019, as páginas dos jornais e os relatos nas redes sociais davam conta do crescimento do desmatamento na Amazônia. Agora, quando a produção chega à TV aberta – nesta terça, 28, na Globo, após a novela Fina Estampa -, a mensagem positiva de um grupo de ambientalistas lutando na linha de frente da preservação do meio ambiente pode ser um refresco em tempos sombrios.

"É um momento em que estamos todos pensando em como chegamos até aqui, onde erramos, o que podemos consertar", diz, por telefone, Taís Araújo, uma das protagonistas de Aruanas ao lado de Débora Falabella, Leandra Leal e Thainá Duarte. "O meio ambiente é um fator central nessa discussão. A série é muito propícia, muito importante, para entender a importância da preservação da floresta."

O "thriller ambiental" segue o grupo de ativistas da ONG Aruana que passa a circular numa cidade do Amazonas depois de receber uma denúncia anônima, conectando uma grande mineradora a crimes ambientais. Ali, garimpos ilegais e desmatamento irregular têm relação direta com o genocídio indígena, por exemplo, e o desequilíbrio de forças espalha desigualdade e violência pela região.

Com elenco conhecido (Camila Pitanga e Luiz Carlos Vasconcelos também fazem parte), a série é criada por Estela Renner (diretora- geral) e Marcos Nisti, com direção artística de Carlos Manga Jr.

"As quatro personagens são mulheres que partem para a ação", explica Taís, que vive a advogada Verônica. "Isso diz muito sobre o que a gente pode fazer também, agora. Ok, estamos entendendo (a pandemia atual), são muitos conceitos de várias pautas, não só da ambiental, mas são temas urgentes que precisam de ação. Não podemos ficar só na compreensão das coisas, porque o que vai fazer preservar é, por exemplo, diminuir consumo, empresas se comprometerem a se reeducar na produção e consumo, olhar para dentro e ver o que podem fazer para ajudar nessa redução. É um pensamento muito coletivo de elaboração de um processo até o consumidor", reflete a atriz.

Na série, Verônica atua nas esferas de poder de São Paulo e Brasília em defesa das populações vulneráveis e da floresta em si, enquanto que Luiza (Leandra Leal) e Natalie (Débora Falabella) se arriscam no combate local a interesses econômicos pouco preocupados com suas consequências ambientais e humanitárias. Embora da mesma geração, as três atrizes nunca haviam participado de uma mesma produção, que começou as filmagens na Amazônia e continuou em São Paulo.

"Foi muito importante ter começado pela Amazônia, trabalhar com atores locais, ter aulas de interpretação e trocar ideias sobre a vivência que eles têm na região, porque as personagens também não são de lá", explica Taís. "Nós três nos apaixonamos pela ideia da série e procuramos dar um tratamento muito profundo ao assunto."

Outro fator que a fez aceitar o convite para a produção foi a ambiguidade a que sua personagem é submetida: um envolvimento amoroso com o marido de uma das amigas põe o trabalho do grupo em risco. "São os erros que fazem as pessoas interessantes. Era superimportante ter uma advogada negra, respeitada, competente, em termos de representatividade era ótimo. Mas o meu lado atriz dizia que eu precisava de um conflito grande para ela: quando vi que era isso… Mulheres negras temos muitas questões com esse lance sexual. Como é que eu vou fazer uma mulher negra que justamente tem esse calo? Mas ela lida com isso de uma maneira magistral. Ela erra muito, de um erro que eu considero imperdoável (o adultério), e foi isso que me fez aceitar também. Criou um conflito dentro de mim que eu nem sabia como lidar. Qual é a graça de uma narrativa sem um grande conflito? Essa foi a personagem mais difícil da minha carreira."

Confinada no Rio com o marido, o ator Lázaro Ramos, e os filhos, Taís é ativa nas redes sociais, promovendo instituições no combate à pandemia e na defesa de populações vulneráveis. Ela também reconhece que a classe artística sofre especialmente neste momento – como um todo. "Há uma preocupação com quem não tem teatros para atuar e trabalhar, técnicos de produção e muitos outros profissionais. Há movimentos para doações para a nossa classe. Porque, afinal, as artes trabalham com o que temos de humano."

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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