A lutadora Aline Silva, classificada para os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, que serão em no ano que vem, iniciou uma campanha online com o objetivo de arrecadar quase R$ 8 mil e levar internet para uma comunidade carente do município de Cubatão, na Baixada Santista, no litoral de São Paulo. No local, a atleta desenvolve o projeto social Mempodera e lida com dificuldades durante a pandemia do novo coronavírus.
O projeto, realizado em uma escola pública no bairro Jardim Nova República, atende mais de 80 alunos oferecendo aulas de wrestling (luta olímpica) e inglês. As atividades, porém, contam com a média de seis jovens durante a quarentena. "Nós continuamos oferecendo aulas, mas online. E agora lidamos com a dificuldade de trazer os alunos para realizar as atividades, uma vez que eles não têm acesso a uma internet de qualidade", contou Aline em entrevista ao Estadão.
A lutadora diz que o local só oferece internet via rádio. "A maioria dos pacotes são caros e param de funcionar com muita facilidade. Eu morei lá e sei como é", explicou. "Algumas crianças que nunca tiveram wi-fi em casa. Outros não têm celular. Então é difícil continuar tendo os alunos presentes. Essa distância de igualdade e acesso à educação fica ainda maior em tempos de pandemia, onde a gente depende da tecnologia para se integrar".
Até o momento da publicação desta matéria, a atleta havia arrecadado pouco mais de R$ 5 mil através de sua "vaquinha online". "A campanha é para comprar internet para o celular dos alunos. Se os valores excederem, vamos ajudá-los com produtos de higiene e alimentação, assim como já estamos fazendo. Porque eles estão em uma situação que não podem ficar esperando", argumentou.
Aline também está pedindo doações nas redes sociais. "Uma outra ideia é arrecadar celulares usados. Esses aparelhos podem fazer muito bem para uma criança que não está conseguindo participar do projeto", disse. O retorno das atividades presenciais ainda está em fase de estudo. O projeto deve retomar a sua rotina seguindo os protocolos de saúde quando a escola for liberada. A princípio, os jovens terão de usar máscara, álcool em gel e realizar treinos com bonecos.
MEMPONDERA – Além de wrestling e inglês, o Mempondera oferece aulas sobre empoderamento. Uma vez por semana os alunos debatem questões de direitos sexuais, prevenção de doenças, conflitos e drogas. "A gente tenta discutir um pouco sobre tudo e dar espaço para assuntos voltados para a idade deles", contou Aline. "O objetivo é realmente empoderar esses jovens, é igualdade de gênero acima de tudo. Foi por esse motivo que lá em 2018 iniciamos os nossos trabalhos apenas com meninas e ano passado integramos os meninos também".
"Criei esse projeto para devolver ao mundo muito do que eu recebi através do esporte. Por acreditar tanto no poder transformador. Se transformou a minha própria vida, também pode transformar a deles. Foi através do esporte que me tornei a pessoa que eu sou hoje, que entrei em uma faculdade e falo outro idioma", destacou.
No wrestling, ela coleciona bons resultados. Foi vice-campeã mundial, em 2014, e subiu ao pódio três vezes em Jogos Pan-Americanos, com duas pratas e um bronze. Para o futuro, o objetivo é usar o esporte "como inclusão e transformação".
"Nós contamos com diversos casos de sucesso de alunos que nos representaram em competições importantes. Mas a nossa medalha é o comportamento e a mudança dos alunos no projeto. Esses são os nossos maiores casos de sucesso", afirmou.
JOGOS OLÍMPICOS – Com o adiamento dos Jogos Olímpicos para 2021, Aline conta que está fazendo uma preparação individual e cuidando da sua parte física realizando exercícios em casa. "Estou sendo acompanhada por uma equipe e agora tenho mais tempo para pensar em Tóquio", comentou.
"Vários planos que eu tinha para depois dos Jogos também foram adiados. Agora é esperar para ver quando o mundo realmente vai vencer esse vírus para a gente poder voltar a fazer planos consistentes. Hoje, nós apenas lidamos com possibilidades", complementou a atleta.