Mundo das Palavras

MACHISTA AMEDRONTADO

Confira a coluna semanal Mundo das Palavras, assinada pelo jornalista e professor doutor Oswaldo Coimbra

         As mulheres não conseguem raciocinar com rigor lógico porque a maneira de pensar delas é afetada pelas emoções. Nesta frase estava um dos argumentos com os quais as mulheres eram afastadas dos cursos de Engenharia, no Brasil, até há poucas décadas.

         Hoje é possível encontrar nestes cursos mulheres que lecionam Cálculo Avançado, em nível de pós-graduação, numa demonstração da falsidade daquele antigo argumento. No entanto, esta suposta incapacidade para o raciocínio cientificamente rigoroso na área das Ciências Exatas era vista com uma das características femininas, há apenas meio século. Limitação que, imaginava-se então, seria compensada por uma maior sensibilidade atribuída a elas.

         Ocorre, porém, que sempre houve mais homens que mulheresna Poesia, uma das áreas que reúne artistas particularmente sensíveis. Tal constação antes até poderia ser explicada pelas barreiras enfrentadas por elas noacesso à sofisticação da Educação exigida pela produção poética, sobretudo, na erudita. Depois do avanço feminino em todas as áreas, ocorrido nas últimas décadas, porém, a explicação não poderia se manter mais. Embora o número dos poetas existentes no mundo continue maior que o das poetas.

         É óbvia, portanto, a falta de consistência da tradicional divisão rígida de características humanas entre os gêneros. Inclusive no que se relaciona à sexualidade. O que – quem sabe -, talvez seja esta a razão maior pela qual o autoproclamado machão brasileiro odeie tanto os homoafetivos.

         Isto é, por não querer admitir ambiguidade em sua própriaidentidade sexual, se torna insuportável para ele que outro homem ou outra mulher aceite e valorize esta ambiguidade, em si mesmos/mesmas, procurando viver em harmonia com ela. Como se os homoafetivos o ofendessem por não precisarem, como ele precisa, por insegurança, acentuar sempre a clara fronteira que imagina existir entre homens e mulheres. 

         Um ser humano adulto que teve o predomínio das características do seu gênero firmado naturalmente no decorrer de seu amadurecimento não se sente ameaçado nem ofendido com a eventual permanência nele de alguma caracteristica atribuída a outro gênero.

         Afinal, no que perdem seu encanto as mulheres que vivenciam experiências arriscadas, antes reservadas apenas para os homens, como a de disputar corridas de alta velocidade?

         Os homens que tocam piano, numa exibição de habilidade própria das moças solteiras de antigamente, se tornam menos viris?

         Por que um homem ou uma mulher deveria sentir uma ameaça à sua identidade sexual no gosto simultaneo por jardinagem e futebol?

         Quem está em paz com a definição de seu gênero sabe que a admissão da existência em si próprio de uma ou outra característica atribuída a outro gênero não é ameaça. Pelo contrário, é valorização. E reconhecimento da bela complexidade da condição humana.   

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