Em um ato de desafio, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nomeou na terça-feira o general Néstor Reverol ministro de Interior, Justiça e Paz. Um dia antes, os Estados Unidos haviam acusado formalmente Reverol por narcotráfico.
Promotores dos EUA afirmaram que Reverol ajudou a contrabandear milhares de quilos de cocaína para o território norte-americano e o acusaram formalmente na segunda-feira. O presidente venezuelano, por sua vez, disse durante seu programa de televisão “Contato com Maduro” que Reverol deveria “assumir a tarefa da segurança 24 horas”. Segundo Maduro, o general bateu o “recorde mundial” de captura de traficantes durante o período anterior em que foi ministro do Interior, de 2012 a 2013. Para o líder, o processo norte-americano é do interesse dos “traficantes de drogas que comandam a política externa dos EUA”, que querem fazer o general “pagar” por sua eficiência no combate ao narcotráfico.
Já os promotores norte-americanos acusaram Reverol – junto com o general Edylberto Molina, atualmente adido militar da Venezuela em Berlim – de ajudar traficantes colombianos a transportar milhares de toneladas de cocaína da Colômbia pelo território venezuelano e então por países da América Central, do México e até os EUA.
A acusação diz que Reverol, que comandava o escritório antidrogas, uma unidade do Ministério do Interior, entre 2008 e 2010, e Molina, seu vice nesse órgão, aceitavam dinheiro de traficantes, para que os contrabandistas pudessem mudar os locais de estoque e as rotas para as drogas. A dupla também obstruía investigações e conseguia a libertação de narcotraficantes capturados, segundo a acusação. “Os embarques exportados da Venezuela em geral consistiam em centenas de quilos de cocaína, às vezes superando uma tonelada em um embarque”, diz o texto.
Reverol já negou anteriormente as acusações e Molina não retornou as mensagens com pedido de entrevista.
Em novembro, dois sobrinhos da poderosa primeira-dama venezuelana, Cilia Flores, foram detidos no Haiti e levados a Nova York, onde são acusados de conspirar para importar 800 quilos de cocaína para os EUA. A dupla, que afirma ser inocente, aguarda julgamento em Manhattan.
As acusações ocorrem em um momento delicado para a economia da Venezuela, um país rico em petróleo, mas que enfrenta grandes turbulências políticas e econômicas. “Com a explosão social de pessoas famintas no horizonte, Maduro colocou a política nacional sob o comando de um notório criminoso – deixando claro de que lado está”, afirmou Roger Noriega, que foi o principal diplomata do governo do ex-presidente George W. Bush para a América Latina.
Analistas dizem que vários narcotraficantes mudaram suas operações da Colômbia para a Venezuela, onde há menos controles. Os EUA estimam que, em 2013, cerca de 131 toneladas de cocaína, ou metade da produção colombiana, passou pela Venezuela antes de seguir para EUA e Europa. Segundo analistas e autoridades dos EUA, as Forças Armadas da Venezuela e particularmente a Guarda Nacional, encarregada de questões de policiamento interno, estão envolvidas com o tráfico de drogas. Fonte: Dow Jones Newswires.