O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, criticou os sistemas eleitorais de Brasil, EUA e Colômbia durante comício em Caracas. Sem provas, ele afirmou que no Brasil não há auditoria das atas eleitorais. Ironicamente, o comentário aproxima o chavismo da retórica bolsonarista, que também questionou a legitimidade da eleição.
As declarações de Maduro foram feitas às vésperas da eleição de domingo, 28, que representam uma ameaça real ao poder chavista – o opositor Edmundo González Urrutia lidera com folga todas as pesquisas. Pressionado, o ditador da Venezuela vem ameaçando recorrer à violência, caso saia das urnas derrotado.
As ameaças de promover "um banho de sangue" na Venezuela estão no centro da troca de farpas entre ele e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. "Temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Temos 16 auditorias e se fazem auditorias em tempo real em 54% das mesas. Em que outra parte do mundo fazem isso? Nos EUA?", questionou. "No Brasil? Não se audita nenhuma ata no Brasil. Na Colômbia? Não se audita nenhuma ata."
Analistas e opositores não acreditam que Maduro deixe o poder pacificamente, por isso muitos esperam alguma manobra antes ou depois das eleições. Uma das ferramentas usadas pelo regime é a ameaça. "Se não querem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida, produto dos fascistas, vamos garantir a maior vitória eleitoral da história", disse o chavista, na semana passada.
<b>Resposta</b>
Depois de reagir de forma ambígua, pedindo que "as pessoas deixem os venezuelanos escolherem o presidente que quiserem", Lula se disse "assustado" com a retórica de Maduro. "Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue", disse o brasileiro a correspondentes internacionais na segunda-feira, 22. Sem citar Lula, Maduro respondeu no dia seguinte: "Quem se assustou que tome um chá de camomila."
Maduro governa a Venezuela desde 2013. Assumiu o comando do regime após a morte de seu antecessor e mentor Hugo Chávez. Ex-motorista de ônibus e sindicalista, transformado em chanceler de Chávez, Maduro venceu eleições que seus rivais consideraram fraudadas. Em 2018, por exemplo, ele foi reeleito depois de vetar a participação dos principais partidos e candidatos da oposição.
Desta vez, Maduro ensaiou a mesma estratégia, inabilitando vários líderes, entre eles María Corina Machado, Henrique Capriles e Juan Guaidó. Na última hora, a coalizão opositora conseguiu registrar a candidatura de González Urrutia, um obscuro diplomata, desconhecido da população – que agora é a maior ameaça a sua revolução bolivariana.
<b>Campanha</b>
Na terça-feira, 23, González Urrutia ofereceu a María Corina a função que ela quiser em seu governo. "O cargo que ela quiser, ela terá", afirmou durante discurso em Maracaibo. Ele também agradeceu a Lula pelo apoio. "Somos gratos pelas palavras do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em apoio a um processo eleitoral pacífico e respeitado na Venezuela", disse o ex-embaixador. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>