Depois da morte, na madrugada desta quinta, 26, do maestro Martinho Lutero Galati de Oliveira, chega a notícia da morte, no início da tarde, da maestrina Naomi Munakata, ex-diretora do Coro da Osesp e atual diretora do Coral Paulistano Mário de Andrade. Ela estava internada há cerca de dez dias e, segundo amigos próximos, havia testado positivo para o coronavírus no dia 19.
É difícil colocar em palavras a contribuição de Naomi para a música brasileira. Mas é preciso.
Ela foi responsável pelo desenvolvimento do Coro da Osesp, acompanhando o projeto de reestruturação do grupo capitaneado pelo maestro John Neschling.
Lembro especialmente do Réquiem de Guerra de Britten, um dos grandes momentos da orquestra na Sala São Paulo. E de me dar conta ali de que, sem o trabalho de Naomi, a Osesp dificilmente teria sido capaz de enfrentar grandes marcos do repertório sinfônico-coral, que se tornaram uma das marcas da gestão Neschling.
Além disso, Naomi também foi a responsável por criar o Coro Infantil e o Coro Juvenil da Osesp, possibilitando a criação de um polo de formação por meio da música coral.
Naomi nasceu em Hiroshima, no Japão, mas mudou-se para o Brasil com apenas dois anos de idade. Seu pai, Motoi Munakata, era regente coral e o ambiente familiar naturalmente foi decisivo em sua formação – ainda que ela lembrasse sempre o fato de que a música jamais foi uma imposição. E, sim, escolha.
No Brasil, foi aluna de Hans-Joachim Koellreutter e teve em Roberto Schnorrenberg uma de suas principais influências. Tocou harpa, estudou composição e regência. E, na Suécia, foi aluna do maestro Eric Ericsson, que acompanhou durante um ano; mais tarde, seria aluna de regência na Universidade de Tóquio.
Seu conhecimento do repertório coral era vastíssimo – como sabem quem acompanhou seus programas na Rádio Cultura FM. A cultura ampla era uma marca em todas as suas atividades, assim como a integridade com que dirigiu instituições como a Escola Municipal de Música, com a excelência artística sempre como único foco.
Com o Coro da Osesp, ela fez gravações marcantes. O resumo delas talvez seja o disco Canções do Brasil, em que comando o grupo em obras de Osvaldo Lacerda, Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, Marlos Nobre, Aylton Escobar e Villa-Lobos. Resumo, pois, de alguma forma representa o interesse que ela mantinha pelo repertório brasileiro, que ajudou a manter vivo, tanto com resgate de peças do passado quanto pela estreia de diferentes peças ao longo de sua carreira.
Em 2014, Naomi virou Regente de Honra do Coro. E, em 2017, assumiu o Coral Paulistano Mário de Andrade. Já havia sido regente assistente do grupo no passado, assim como já comandara o Coral Jovem do Estado de São Paulo. Agora, como diretora artística, fez do grupo destaque da programação do Teatro Municipal de São Paulo, tanto participando em óperas e em concertos sinfônicos – seus últimos trabalhos foram na apresentação da Sinfonia nº 3 de Mahler e nos ensaios da ópera Aida, de Verdi.