Variedades

Maestro Zubin Mehta continua, aos 80 anos, de olho no futuro

Um maestro completar 80 anos ao mesmo tempo que a orquestra da qual é diretor há mais de quatro décadas pode parecer o momento ideal para balanços. Mas não se esse maestro é Zubin Mehta. “Em 2019, eu vou comemorar 50 anos como diretor da Filarmônica de Israel. As datas especiais estão sempre à nossa volta, então eu prefiro olhar para frente. Foi o que sempre fiz, toda a minha vida”, diz.

Mehta e a filarmônica desembarcam neste sábado, 27, no Brasil para uma apresentação única na Sala São Paulo, que celebra os 80 anos de maestro e orquestra e terá a renda revertida para as obras da Federação Israelita do Estado de São Paulo e do Voluntariado Einstein e da Amigo H, ligados à Sociedade Israelita Brasileira Albert Einstein. Mehta queria mais. “É uma pena que seja um só concerto. E que o Rio de Janeiro não esteja incluído na viagem. Sinto muito por isso”, diz em entrevista.

Se Mehta queria mais, está ao menos contente com o repertório que vai apresentar. Depois da Abertura Carnaval, de Dvorák, a orquestra interpreta Daphines et Chloé – Suíte nº 2, de Ravel, e Uma Vida de Herói, de Strauss. Separadas por cerca de uma década, são duas peças que, à sua maneira, tentam encontrar respostas na música às perguntas que o final do século 19 e o início do 20 colocaram aos artistas. “Nenhum dos dois foi exatamente um revolucionário, mas com certeza já respiram um ar diferente. E cada um celebra, de certa forma, uma herança distinta. Ravel vem com certeza de Debussy. Strauss, de Wagner. E, claro, Debussy também bebeu em Wagner, então há de alguma forma pontos de contato interessantes.”

A carreira de Mehta é tão marcada pela diversidade que fica difícil elencar uma especialidade. Gravou integrais dos principais compositores do repertório sinfônico. Nos anos 1970 e 1980, fez registros históricos de óperas italianas; depois dos anos 2000, realizou duas gravações completas da monumental tetralogia O Anel do Nibelungo, de Wagner. Franceses, russos, modernos – estão todos lá na lista de centenas e centenas de gravações, parte delas reunidas este ano em duas caixas comemorativas: a primeira, com 23 discos, traz uma seleção de sinfonias e poemas sinfônicos; a segunda, com oito, contempla a obra sinfônica e concertante de Brahms.

Talvez por estar no programa de alguns dos concertos da atual turnê latino-americana, ele fala muito em Schubert. É um defensor de suas sinfonias. Abre, assim, espaço para falar de sua trajetória. Nascido na Índia, ele estudou regência em Viena, terra do compositor. “É um ambiente no qual eu me formei musicalmente e isso talvez explique meu interesse por sua música. Mas cheguei às sinfonias tarde, antes passei pela música de câmara”, diz o maestro, que também é contrabaixista (seu vídeo tocando o Quinteto A Truta de Schubert, ao lado do pianista Daniel Barenboim, da violoncelista Jacqueline Dupré e dos violinistas Pinchas Zukerman e Itzhak Perlman é um hit constante entre os amantes da música clássica).

Mas não adianta muito querer falar do passado. Mehta está interessado mesmo em comentar sua nova gravação da Aida, que compete com um registro histórico dos anos 1970 e traz o tenor Andrea Bocelli e a Orquestra do Maggio Musicale Fiorentino, da qual também é diretor. “Aida é uma ópera que em Florença fazemos quase ano sim ano não, você sabe. Um Verdi especial, wagneriano. Gosto do resultado que conseguimos nesse registro.”

Mehta define-se como um “ditador democrata” e acha que essa ainda é a melhor maneira de se colocar diante de uma orquestra, “garantindo que os músicos tenham direito a opinar”. E aborda a questão israelense. “É inevitável que se discuta esse tema quando se está à frente da Filarmônica de Israel. Nós não nos entendemos como um fórum político, e não somos uma orquestra estatal”, ele explica, reforçando uma declaração dada em abril ao Haaretz: “Como alguém que conhece a imagem de Israel mundo afora, eu afirmo que Israel está cada vez mais isolado. Isolado.”

Aqui também o olhar é para frente. “Se você me pede por balanços, eu prefiro na verdade falar no que há ainda a fazer. Eu construí muito com a orquestra, participei da escolha de todos os músicos que hoje tocam nela. Mas espero, em um futuro muito próximo, comandá-los em um concerto em algum país árabe. E fazer com eles uma ópera de Wagner.” São sonhos, que mexem “com questões emocionais muito fortes”. “Mas eu espero por essa duas oportunidades, não há dúvida.”

ZUBIN MEHTA E ORQUESTRA FILARMÔNICA DE ISRAEL
Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, 16, Luz, tel. 3367-9500. Neste sábado, 27, às 21 h. R$ 50/ R$ 600.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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