Por mais lamentável e triste que sejam as mortes de 13 crianças (11 na UTI neonatal e duas no Pronto Socorro) do Hospital Municipal da Criança (HMC) de Guarulhos, no período de 47 dias, há que se tomar muito cuidado na hora de buscar os responsáveis por essa tragédia. O Ministério Público Estadual promete ser implacável na investigação e ganhou o apoio da própria Secretaria Municipal de Saúde, em tese, a responsável maior pelo estabelecimento médico.
É lógico que, em sã consciência, não se pode culpar o secretário ou o prefeito pelas mortes. Nenhum dirigente municipal pode admitir que esse tipo de fato ocorra em sua gestão. Cuidar da vida das pessoas é uma premissa de quem entra para a vida pública. Logo, a saúde deve ser encarada, assim como a educação, com total prioridade. Mas erros acontecem. Às vezes, de gestão, outras de equipamentos e, também, motivados por falhas humanas.
Desta vez, foram necesários quase dois meses e 13 vidas perdidas até que as Vigilâncias Municipal e Estadual, motivadas pela investigação do Ministério Público, interditassem a UTI. Talvez – ninguém pode afirmar isso antes de exaustivas apurações – uma ou algumas dessas vidas pudessem ser economizadas caso problema fosse denunciado ou mesmo detectado antes. Por isso, é fundamental que a Secretaria Municipal – como está fazendo – se coloque ao lado da elucidação desse caso.
Em 1997, um ano após ter reaberto aquele hospital onde no passado funcionou a Santa Casa de Guarulhos, a Prefeitura – na ocasião sob a administração de Néfi Tales – passou sérios apuros com a morte de mais de uma dezena de crianças na mesma UTI neonatal mas em um período bem menor. A cidade, na época, vivia uma intensa crise política e o fato ajudou a colocar o município de forma negativa perante a Nação. José Serra, que respondia pelo Ministério da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso, veio pessoalmente à cidade. O hospital acabou fechado, sendo reaberto apenas na década passada pelo prefeito Elói Pietá, já como HMC, após um longo período de obras e reformas.
Agora, espera-se que a UTI só seja liberada após uma minunciosa fiscalização dos agentes responsáveis. Que o poder público municipal tenha condições de reparar os possíveis erros e evitar que problemas parecidos voltem a ocorrer. Talvez seja necessário um tempo maior para que a ordem seja restabelecida. Mas que ninguém feche os olhos ou minimize a gravidade da situação.