Curtindo uma fase profissional bem produtiva, Malvino Salvador vem conquistando o público da TV interpretando o Coronel Brandão, na novela das 18h da Globo Orgulho e Paixão, de Marcos Bernstein. Personagem complexo, mas que possibilitou ao ator unir o trabalho à sua paixão pelas motos.
Por ser uma trama de época, as motocicletas usadas são um tanto diferente das atuais, bem mais simples. E o ator mostra que não apenas gosta de motos, mas que entende um bocado delas. Ele explica que “as motos vieram das bicicletas, que começaram um pouco assim mesmo, simples e as primeiras tinham pedal, só depois é que passaram a ter pedal único”.
Para quem acompanha Orgulho e Paixão, a impressão é que as motos usadas sejam bem limitadas. Mas o ator afirma que “elas pegam uma velocidade boa, às vezes a gente não consegue acelerar muito por conta da gravação, que tem de acompanhar um carro, mas quando a câmera está afastada, fixa, acredito que chegue a até uns 80 km por hora”, conta.
Além desse privilégio de poder atuar em cima de uma moto, Malvino mostra que está muito entusiasmado com esse personagem, que o faz refletir sobre a dubiedade do ser humano. “Ele é muito interessante, é um ser humano, com defeitos e qualidades, um cara que, naquele período, a novela se passa por volta de 1910, mantém em sua vida as normas rígidas de um coronel do Exército brasileiro.”
Mas na trama, essa função não o satisfaz plenamente, o que o leva a procurar algo que o complete. “Na verdade, ele queria ser outra pessoa e isso para mim é o que molda o Brandão, é o desejo dele de ser um homem aventureiro, na verdade ele queria ter uma outra vida”, explica Malvino. “Brandão queria mesmo é atuar de uma outra maneira, ter outra profissão, mas acabou que a vida fez com que ele fosse esse militar e ele assume isso como um dever de ser uma pessoa honrada, ser um sujeito que é exemplo para as outras pessoas”, explica o ator.
“Mas o problema é que o espírito aventureiro dele é mais forte do que isso, do que essas amarras”, diz Malvino, que completa enfatizando o outro lado do personagem, que faz com que ele entre em conflito com ele mesmo. “Ele não consegue deixar de se aventurar, por exemplo, participando de corridas clandestinas e é aí que surge a primeira contradição com relação à postura da personagem, pois ele tem de esconder isso de todo mundo, porque naquela época essas corridas, especificamente, tinham apostas”, afirma, enfatizando que isso para o personagem é um dilema cruel, pois trata-se de uma atividade ilegal e “ele acha que isso não é correto e então não quer contar para as pessoas”.
Em meio a esse dilema pessoal, o Coronel Brandão, meio sem querer, assumirá uma outra personalidade. “Certo dia, ele se vê numa situação em que ele tá todo coberto, mascarado, e consegue resolver um assalto, depois ainda salva umas crianças num incêndio”, conta Malvino. “E é aí que ele começa a gostar de viver esse outro homem, um meio herói que salva pessoas, mas ele não é completamente bom, também vai usar isso em proveito próprio, conseguir vantagens, e é assim que ele se transforma no Motoqueiro Vermelho”, completa.
No entanto, como Brandão é esse homem em conflito com seus preceitos, no decorrer da história toma a decisão de parar com a vida dupla. “Ele vem sofrendo com dilemas e decide abandonar essa coisa de ser o Motoqueiro Vermelho, pois ele sabe que é errado, que está infringindo a lei”, conta Malvino, que diz acreditar que mais para frente ele voltará a se transformar no herói.
Para fazer a história ganhar contornos mais romântico, entra na vida do Coronel Brandão a jovem Mariana Benedito (Chandelly Braz), que, no decorrer da história, vai se apaixonar pelo coronel, mas não será fácil o entendimento dos dois, pois Brandão fica em dúvida se a garota gosta dele ou do tal Motoqueiro Vermelho.
No teatro
Mostrando ser incansável, Malvino Salvador divide seu tempo entre as gravações da novela com a turnê pelo País da peça Boca de Ouro, que, neste fim de semana, volta a São Paulo, no Teatro Vivo, depois de passar por outros locais.
“Boca de Ouro é uma peça incrível e deu tudo certo com essa montagem”, diz o ator, que afirma ser esse um personagem que ele sonhava em fazer. “Eu li quase todas as peças de Nelson Rodrigues, vi inúmeras montagens e queria muito fazer algo dele, mas que fosse diferente do que já fizeram”, afirma e conclui enaltecendo a direção de Gabriel Vilella.
“O Gabriel pegou esse clássico de Nelson Rodrigues, com esse personagem emblemático e conseguiu amplificar e colocar mais riqueza do que tinha o texto”, conta o ator, que comemora o sucesso de público e crítica e o prolongamento da temporada. “A princípio, ficaríamos três meses em cartaz e já estamos há dez.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.