Em almoço com empresários, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega elogiou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, minimizou declarações em que o ex-presidente Lula acena à sua base eleitoral e garantiu que o petista fará, se eleito, um governo de centro, segundo o relato de participantes. O encontro de Mantega com o empresariado foi organizado pelo grupo Esfera Brasil.
No evento, Mantega afirmou que o BC de Campos Neto está com desempenho melhor do que o do governo Lula durante o comando de Henrique Meirelles. Ele criticou o fato de Meirelles, então presidente do BC, ter subido a taxa de juros durante a crise financeira de 2008.
Segundo um dos presentes, o ex-ministro teria afirmado que, apesar de ter permitido uma queda muito mais forte do que a necessária, Campos Neto agiu mais rápido do que Meirelles, durante a crise de 2008 nos Estados Unidos.
<b>Programa econômico</b>
Após o almoço e diante de um grupo reduzido, Mantega ouviu de empresários o pedido para que Lula sinalize, logo, quem será o homem forte da economia em um futuro governo do petista. Os empresários se queixaram da proliferação de nomes apontados pela imprensa como responsáveis pelo programa econômico do ex-presidente, entre eles o de Mantega, o de Aloizio Mercadante, o do economista Gabriel Galípolo e outros. "Lula precisa sinalizar quem é", disseram os empresários a Mantega.
O ex-ministro tomou o cuidado de responder que não fala por Lula e nem pelo PT e respondeu que provavelmente só na época das convenções partidárias, em julho, fique mais claro quem será um porta-voz para a economia.
Em entrevista à Bloomberg no início deste ano, Mantega afirmou que não integraria o primeiro escalão de um futuro novo governo Lula. Essa, no entanto, não foi a sensação deixada pelo ex-ministro a empresários que participaram da conversa desta segunda-feira. Eles avaliam que o nome de Mantega não está descartado.
O almoço aconteceu na casa de João Carlos Camargo, presidente do Esfera Brasil. O empresário já havia aberto a casa para receber a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, há duas semanas. Na ocasião, Gleisi chegou a dizer que Campos Neto ficaria até o final do seu mandato em um eventual governo Lula.
Mantega afirmou que o PT não é socialista e que um eventual governo Lula a partir de 2023 será bem similar ao que foi feito em 2003. Segundo um dos presentes, a fala de Mantega ocorreu após o questionamento de Flávio Rocha, presidente do conselho de administração do Grupo Guararapes, dono da Riachuelo, de que o Brasil estaria entre o "capitalismo de Bolsonaro e o socialismo do Lula".
Mantega, então, afirmou que os antigos governos do PT fizeram diversas concessões. O que não estaria em jogo, no entanto, seriam as privatizações das empresas estatais que eles consideram essenciais.
O ex-ministro teria dado o exemplo de uma venda da Eletrobras, que poderia criar um oligopólio e pressionar os preços da energia elétrica para cima. Sem o controle da Eletrobras, segundo ele, o governo deixaria de ter qualquer possibilidade de interferir nos preços.
<b>Reaproximação</b>
Empresários que participaram do encontro disseram que Mantega foi didático e bem recebido pelo grupo. Cerca de 30 pessoas participaram do almoço, que incluiu nomes próximos ao governo Bolsonaro, como os empresários Flávio Rocha, da Riachuelo, e Eugênio Mattar, da Localiza, além do executivo Ivan Monteiro, do Credit Suisse, e Mauricio Russomano, da Unipar.
O Esfera Brasil organiza reuniões com economistas indicados pelas quatro campanhas presidenciais melhor pontuadas nas pesquisas de intenção de voto. O grupo pede aos partidos e candidatos que indiquem colaboradores do plano econômico para conversar com os empresários. Pelo PT, o nome sugerido foi o de Mantega, que faz parte do grupo que assessora a campanha de Lula.
Dentro do partido, há quem defenda que é preciso reaproximar Mantega do empresariado para "matar fantasmas". O nome do ex-ministro desperta resistências entre o mercado financeiro e empresários, em razão do seu período na condução do Ministério da Fazenda durante o governo Dilma. Nos bastidores, integrantes do PT afirmam que colocar Mantega frente a frente com empresários é uma forma de abrir diálogo e, também, de retirar de cima de Lula as cobranças pelos maus resultados da economia durante o mandato de Dilma.
Mantega disse a empresários que um governo Lula em 2023 não trará surpresas na economia e repetiu algumas vezes que o ex-presidente é um político "de centro". O ex-ministro disse que ainda que o petista faça acenos a uma base de esquerda em eventos políticos, como encontros com sindicalistas, ele fez um governo de centro-esquerda quando esteve no Planalto e seguirá mirando o centro em um futuro mandato.
A possível revogação da reforma trabalhista, discutida pelo PT, também foi assunto com os empresários. Mantega criticou a reforma aprovada durante o governo Michel Temer (MDB) e disse que a medida não atingiu o objetivo de geração de empregos. Ele contemporizou o comentário, segundo presentes, com a afirmação de concorda, no entanto, que a CLT precisa ser modernizada.
Mantega também criticou o teto de gastos e disse que investimento não é despesa. Ele defendeu que haja uma reforma tributária com participação de todos os atores envolvidos na discussão – e que isso seja debatido no primeiro ano de um novo governo do PT.
O grupo de empresários também deve se reunir com Nelson Marconi, economista próximo a Ciro Gomes. A campanha do presidente Jair Bolsonaro estuda indicar o Secretário especial do Tesouro, Esteves Colnago, para a conversa com o empresariado, que ainda aguarda definições sobre a candidatura única do MDB, União Brasil, Cidadania e PSDB para agendar a quarta rodada de conversa com economistas das campanhas.