O presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), decidiu passar por cima da decisão do colégio de líderes e manteve a sessão de eleição do novo presidente da Casa para quinta-feira, 14, às 16h. “De acordo com o regimento e a Constituição, a presidência tem a prerrogativa de assim o fazer e faremos”, explicou.
A decisão gerou revolta entre os líderes partidários que defendem a eleição na terça-feira, 12. A avaliação é que, ao manter a sessão de quinta-feira, Maranhão trabalha com a possibilidade de não ter quórum e assim deixar a sucessão na Casa para agosto, prolongando sua permanência no cargo.
O pepista disse que haverá parlamentares suficientes para o pleito neste dia porque “os deputados querem participar da eleição”. “Tentam levar a sessão para quinta-feira para que ela não aconteça”, acusou o vice-líder do PMDB, Carlos Marun (MS).
As decisões de Maranhão e do colégio de líderes foram publicadas hoje no Diário da Câmara. Maranhão, no entanto, diz que o que vale é a sua determinação. Ele não explicou se a decisão do colégio de líderes será revogada formalmente ou simplesmente ignorada.
Marun acredita que há em curso uma manobra para que a eleição só aconteça depois do recesso parlamentar e assim prejudicar o governo Michel Temer. Ele aposta que a posição de Maranhão tem a influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu recentemente com o pepista. “É uma atitude nefasta e covarde”, afirmou.
Impasse
A data da eleição abriu um conflito de interpretações do regimento e causou um bate-boca entre deputados no gabinete da presidência da Câmara nesta manhã. Quem defende a eleição na terça-feira alega que a reunião do colégio de líderes reuniu representantes de 280 deputados, portanto tinha a força da maioria da Casa para se sobrepor a determinação de Maranhão. “Regimentalmente estamos seguros de que estamos certos”, insistiu Marun.
Já os parlamentares que preferem a eleição para o fim da próxima semana dizem que o colégio de líderes só poderia convocar a sessão se houvesse omissão do presidente em chamar a eleição.
Maranhão convocou a eleição dentro do prazo regimental de cinco sessões, mas é criticado por não ter consultado os líderes antes. “Ninguém imagina que não terá quórum na quinta-feira”, rebateu o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ).
O líder do PSD, Rogério Rosso (DF), vai propor uma reunião na segunda-feira, 11, para que os demais líderes busquem uma solução para o impasse e consigam encontrar uma saída para antecipar a eleição, nem que seja para quarta-feira, 13. Rosso não descartou a possibilidade de judicializar a discussão e disse temer as idas e vindas de Maranhão. “Tem alguma coisa estranha em ter eleição na quinta-feira”, comentou.
Registros
Até o início da tarde desta sexta-feira, quatro parlamentares já haviam registrado suas candidaturas à presidência da Câmara na Secretaria-geral da Mesa. Os nomes estão divididos entre adversários e aliados do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ). São eles: Fausto Pinato (PP-SP), Marcelo Castro (PMDB-PI), Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO) e Carlos Manato (SD-ES).
Como as candidaturas podem ser realizadas até o dia da votação, outros candidatos devem ser inscritos até a semana que vem. Entre os outros nove nomes que circulam pela Casa, os mais fortes são Rogério Rosso (PSD-DF), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Fernando Giacobo (PR-PR). Os favoritos, contudo, ainda não se inscreveram.
Candidato pelo PTN, Gaguim é um dos aliados do ex-presidente da Casa. Há dois dias, ele chegou a renunciar à vaga de membro titular da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para não ter que votar contra o peemedebista. Conforme orientação do PTN, o membro do partido na CCJ deverá votar a favor da cassação de Cunha.
Desafeto de Cunha, Fausto Pinato foi o primeiro relator do processo de cassação do ex-presidente da Câmara no Conselho de Ética. No colegiado, ele recomendou a continuidade do processo contra o peemedebista. Mas a função não durou muito, já que uma manobra de Cunha fez com que Pinato fosse destituído da relatoria no colegiado. Em abril, ele renunciou ao posto no Conselho, dando lugar a Tia Eron (PRB-BA), que, depois de muito mistério, também se posicionou contra Cunha.
Entre os adversários de Cunha na disputa também está o ex-ministro da Saúde do governo Dilma Rousseff, Marcelo Castro.
Corregedor da Câmara dos Deputados, Carlos Manato foi quem recebeu, em outubro do ano passado, a representação de partidos da Casa contra Cunha. O parlamentar é da bancada do Solidariedade, liderada por Paulinho da Força (SP), um dos maiores aliados de Cunha. Manato ganhou destaque nos jornais ao arrecadar dinheiro entre deputados para “bolão do impeachment”. Como ninguém acertou o placar da votação, Manato disse que os recursos seriam doados a uma ONG.
Outro aliado de Cunha, Beto Mansur (PRB-SP), reforçou hoje que também será candidato. “Conversei com a família e aceitaram que eu seja. Vou colocar meu nome”, disse. Ontem, ele afirmou que Cunha foi um bom presidente da Câmara, apesar de problemas pessoais que precisam ser resolvidos na Justiça.