Economia

Marcas tradicionais tentam colar imagem aos food trucks

O burburinho em torno dos caminhões adaptados para a venda de comida de rua começa a despertar o interesse de grandes empresas. Por meio de suas divisões de consumo, companhias como Unilever, a fabricante de queijos Tirolez e, mais recentemente, a JBS demonstraram interesse em associar suas marcas com a desses negócios itinerantes que, desde o ano passado, contam com uma legislação própria na cidade de São Paulo.

Em troca de alguns benefícios para os pequenos empresários, como descontos ou mesmo cotas de produtos fornecidos sem nenhum custo, as companhias aproveitam os espaços vagos no cardápio ou na lataria dos caminhões, também chamados de food trucks, para fixar logomarcas e comunicar mensagens ao consumidor final.

Essa estratégia já é responsável por tornar alguns veículos em circulação na cidade em candidatos a vitrines móveis de marcas conhecidas. Exemplo disso é o Wings Burguer, de Alex Caputo, que desde o mês passado roda com um adesivo de 30 centímetros da Friboi colado em seu caminhão. A propaganda da marca também está no papel manteiga entregue aos clientes e no saco de papel que embrulha os lanches.

Futuramente, quem pedir o cardápio do food truck vai se deparar com uma peça de divulgação da Hellmanns entre os preços dos produtos. “Pra gente essa é uma chance de ganhar eficiência e chancelar qualidade”, conta Caputo, que usa a marca de maionese da Unilever como base para os molhos de seus lanches e, desde que assinou o contrato com a JBS, recebe da empresa toda a cota de hambúrguer já fracionada, seguindo a receita original desenvolvida por ele.

“A gente entregou nossa receita para a empresa, com exceção do tempero, que considero nosso diferencial competitivo. O que eles fazem é a mistura dos tipos de carnes que compõe nosso produto e acrescentam o tempero que envio separadamente”, diz o chef. “A maionese, nem se eu quisesse eu conseguiria preparar com o tempo de vida útil que tem a processada pela Unilever. Já a carne, a gente comprava de frigoríferos e transformava em porções em nossa cozinha industrial. Agora, já chega tudo pronto e os quatro funcionários usados na cozinha foram aproveitados na operação de venda”, analisa.

Caputo diz que não foi fisgado para as parcerias apenas pelo apelo de redução de custos, mas também pela oportunidade de conectar seu negócio em um nicho ainda atrás de afirmação pública, junto à empresas de penetração nacional.

Nesse sentido, o discurso do empresário se aproxima do das marcas patrocinadoras. “Temos pesquisas que indicam que o brasileiro fica muito mais suscetível a consumir produtos na rua quando ele já experimentou aquilo em casa”, conta Rodrigo Bertoncini, que dirige a divisão de Food Solutions da Unilever, voltada para a alimentação fora do lar. A companhia faz testes com o novo canal de vendas para duas de suas marcas, Hellmanns e Ades.

Já para Eduardo Parez, que acaba de abrir um food truck, o contrato de parceria assinado com a empresa de laticínio Tirolez foi uma alternativa para amortizar os custos iniciais com capital de giro.
“A gente só faz sanduíche de queijo grelhado e, por isso, o queijo é 60% do nosso custo. Quando comecei a projetar a empresa, percebi que buscar um apoio com um fornecedor seria fundamental para melhorar a questão financeira”, diz.

Parez conta que entrou em contato com a marca pelo Facebook em um dia e, no outro, já tinha uma reunião agendada com o departamento de marketing. “A marca já estava atenta a esse novo segmento quando o Eduardo nos procurou”, conta Luiza Hegg, coordenadora de marketing da Tirolez. “Ele chegou com uma proposta que fazia todo o sentido”, afirma.

A empresa fornece sem custos uma cota de R$ 5 mil em queijos por mês para o empresário. Em troca, tem o logotipo na porta da Kombi onde a lanchonete opera e pode explorar o veículo para ações de marketing.
“Nosso plano é promover degustações de queijos ao lado do veículo”, explica a executiva. “É uma primeira ação, serve como um teste para outras parcerias, vamos analisar”, explica.

No caso da JBS, o projeto de relacionamento com esse mercado já é tratado desde o início de julho como uma ação de alcance nacional.

“Estávamos em uma fase piloto, que começou em junho e foi até o final da semana (passada). Identificamos dez food trucks que trabalham principalmente com carnes e, até o final do ano, queremos expandir nacionalmente”, destaca João Galoppi, coordenador de comunicação da JBS, responsável pelo projeto. “É uma parceria com os caminhões, mas nosso foco de comunicação é direto com o consumidor final”, diz ele, que pensa em alcançar 500 food trucks em São Paulo e 1,2 mil pelo Brasil. “A ideia é estar presente em 100% dos caras que trabalham com carne.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posso ajudar?