Não restam dúvidas que Marco Aurélio Cunha, hoje com 57 anos, é a cara do São Paulo. E pelo tricolor ele já fez de tudo, desde conquistar títulos, como o Campeonato Mundial de Clubes (em 2006) até pedir a Marcelo Tas e seus pupilos do CQC, da Band, para maneirar com as piadas – ou com "a piada", como ele próprio explicou – sobre o time e, consequentemente, sobre os sãopaulinos, chamados – por muitos – de "bambis". Disse até achar o termo "simpaticíssimo", contanto que ele não seja utilizado para caracterizar uma opção sexual e nem atinja a honra do torcedor.
Perguntado sobre a polêmica camisa rosa do goleiro Rogério Ceni, disparou: "eu acho a cor rosa bonita, e daí?". E levou toda a entrevista com muito bom humor. Em seu gabinete na Câmara de São Paulo, o vereador Marco Aurélio contou à Revista Free São Paulo onde foi que recebeu o convite do prefeito Gilberto Kassab para ser candidato pelo DEM e detalhou sua recente transferência para o novo PSD, que o tem como primeiro líder de bancada no Legislativo paulistano.
Como parlamentar, Marco Aurélio tem seu mandato voltado à cidadania. Como esportista, este médico ortopedista de 1,57m e 76 quilos, que não cansa de assistir no youtube ao gol de bicicleta que fez há cerca de 30 dias durante partida entre os conselheiros do São Paulo, em Cotia, quer ser o próximo presidente do seu time de coração, hoje presidido pelo seu ex-sogro Juvenal Juvêncio, que o deixou de fora do Conselho Vitalício do clube, lhe causando profunda tristeza. Marco Aurélio também falou a respeito deste fato, da abertura da Copa 2014 em São Paulo e do estádio do Corinthians.
O senhor está satisfeito com a escolha de São Paulo para ser o palco de abertura da Copa 2014?
MARCO AURÉLIO – Muito. Sempre briguei por isso, tanto que apresentei emenda que reforçava a tese de São Paulo sediar a abertura da Copa. Mesmo não concordando com o valor dos incentivos fiscais que é abusivo – você abrir mão de R$ 420 milhões do município para um projeto com iniciativa privada é muito errado -, eu entendo o gesto do prefeito de viabilizar a abertura do Mundial. A minha emenda dizia que era necessário abrir a Copa para valer os incentivos, mas o prefeito vetou. Se ele tivesse plena convicção de que seria aqui [a abertura], ele não teria assinado o veto.
Ainda é cedo para ficarmos preocupados com a infraestrutura?
MARCO AURÉLIO – Não. Temos que ficar preocupados, mas entendo que a Copa do Mundo é um evento de exceção – por exemplo quando você faz uma reunião com o estadista de um País, o ambiente fica todo preparado para a exceção. O certo é o evento criar essas condições para sempre. Não tenho medo da realização da Copa como fracasso, pois o brasileiro é rápido, é preparado para condições excepcionais e tem um poder de criatividade imenso. Mas seria muito melhor ter feito um preparo mais ajustado, com datas, programas, planejamentos mais eficientes. Nós estamos correndo atrás do prejuízo. E é óbvio que uma cidade não se desenvolve em dois anos como a gente gostaria.
Então temos que pensar em infraestrutura não apenas para a Copa, mas para depois dela?
MARCO AURÉLIO – É lógico. Pensarmos antes, para não passar os apuros que vamos passar (e que vamos resolver, tenho certeza), e pensarmos depois, que é o tal chamado "legado de Copa", que é um termo que está muito banalizado, e que vai demorar para repercutir.
A Copa não poderia ser aberta em um Morumbi mais moderno, mais ampliado?
MARCO AURÈLIO – Mais moderno não é, porque mais moderno é sempre o mais novo. Eu diria mais estabilizado, mais inserido no contexto da cidade, mais reconhecido como um estádio de 50 anos e absolutamente adaptado à sua vizinhança, em que pese ainda haja deliberação no ponto de vista acústico, que seria resolvido.
Então, o que houve para isso não ser viabilizado?
MARCO AURÉLIO – Foi uma guerra política de bastidores, o interesse de construção de um novo estádio, as grandes empreiteiras do País interessadas em grandes obras e o presidente Lula viabilizando isso com a Odebrechet. Ao mesmo tempo, se indicou um candidato que era o Corinthians, um clube popular sem nenhum equipamento importante. Então se fez a ação orquestrada para eliminar um protagonista do futebol, eventual já rico, para beneficiar o mais pobre.
Mas o senhor questiona o estádio do Corinthians?
MARCO AURÉLIO – O Corinthians tem que ter o seu estádio, não há nenhum problema auxiliá-lo para este caso; o terreno já é público, o dinheiro é público, o banco é o BNDES. Se fez tudo, mas como foi feito é que acho um exagero. Há de ter a parte do esforço próprio e há uma grande dívida ainda a ser paga, não é uma coisa gratuita. O Corinthians vai ter um período difícil para poder realmente pagar o que está bancando. Mas é absolutamente normal, legítimo, oportuno e necessário o Corinthians ter o seu estádio, só critico a viabilização econômica exagerada por parte do poder público.
No início do ano, o senhor pediu demissão do cargo de diretor de futebol do São Paulo. Se isso não tivesse acontecido, o time estaria passando dificuldades no Brasileiro?
MARCO AURÉLIO – Eu ajudava bastante a superar as dificuldades. Eu sempre me dediquei ao São Paulo sob todas as questões, boas e más Acho que faço alguma falta, apesar de ser complicado dizer isso. Não sei se eu mudaria o panorama técnico, porque para mudar você tem que ter poder. Enquanto eu tive poder, o presidente me ouvia, a diretora me ouvia, as coisas foram muito bem. De um tempo pra cá, desde a saída de Ricardo Gomes [ex-técnico], percebi um certo isolamento meu do ponto de vista de progressão de ideias e de opiniões, as portas estavam mais fechadas quando eu chegava, não queriam falar na minha frente, não sei o que estava acontecendo.
Quem pode salvar o São Paulo?
MARCO AURÉLIO – O próprio São Paulo, mas com ideias modernas e construtivas, não personalistas. O Juvenal é um grande presidente, mas personalizou muito a administração. Há um sentimento de provar a todos que não se erra, talvez seja o maior equívoco do São Paulo esta soberania. Há uma auto-estima exagerada.
O presidente Juvenal o deixou de fora dos 10 nomes do Conselho Vitalício. Isso o magoou?
MARCO AURÉLIO – Magoou. Mas não é uma coisa que me incomoda profundamente. Pontualmente me magoou. O que aconteceu não muda o meu caráter deliberativo, mas acho que há momentos em que você faz gestos de reconhecimento pelo trabalho. Não se fez. Magoou? Sim, naquele dia, naquela hora. Mas hoje continuo trabalhando. Acho até que o Conselho Vitalício deveria ser metade os mais velhos e a outra metade, os mais meritórios.