As manhãs de segundas-feiras em Brasília são, via de regra, marcadas pela ausência de parlamentares na cidade. Como as sessões na Câmara e no Senado só acontecem a partir de terça, muitos deputados e senadores usam a segunda para voltar de seus redutos eleitorais. Para o senador Marcos do Val (Podemos-ES), porém, a presença na capital federal nesta segunda, 18, se tornou estratégica.
Investigado no Supremo Tribunal Federal (STF), ele foi um dos primeiros a chegar para a posse do novo procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, a quem caberá decidir pela apresentação de denúncia após o fim do inquérito.
Do Val é investigado pelos crimes de divulgação de documento confidencial, associação criminosa, abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa. O rol de ilegalidades está relacionado ao episódio em que o senador relatou ter sido procurado pelo ex-deputado Daniel Silveira e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para grampear o ministro Alexandre de Moraes, do STF, numa tentativa de golpe de Estado.
Em junho deste ano, a Polícia Federal (PF) realizou uma operação de busca e apreensão no gabinete de Do Val. Na ocasião, os agentes apreenderam o celular do senador e bloquearam as suas redes sociais. O parlamentar teria se negado a prestar depoimento. Ele disse que a equipe jurídica do Senado vai cuidar de seu caso, porque "houve uma invasão, uma irregularidade".
Na última quinta-feira, 14, a Advocacia do Senado Federal solicitou a Moraes que "destrua documentos e informações que tenham relações com senadores da República". O pedido faz referência ao material encontrado no pen drive e no celular de Do Val.
O inquérito que mira Do Val está sob relatoria de Moraes no STF. Ao final das investigação, caberá ao procurador-geral da República analisar as provas colhidas pela PF e apresentar parecer favorável ou contrário a tornar o senador réu pelos crimes apurados.
Além de Do Val, apenas outros quatro parlamentares compareceram à posse de Gonet: o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Sem Partido-AP); o líder do governo no Senado, Jacques Wager (PT-BA), o deputado Antonio Brito (PSD-BA); e a deputada Bia Kicis (PL-DF). A parlamentar bolsonarista elogiou a indicação de Gonet pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com ela, o novo PGR "sempre foi conservador".