Na segunda década de sua carreira, a cantora Maria Rita, que abriu a programação do terceiro dia do The Town nesta quinta-feira, 7, decidiu que iria se dedicar ao samba.
Parte do seu público a acompanhou. Outra, ainda espera que ela volte ao estilo jazz/ MPB que a consagrou em seu dois primeiros álbuns, lançados em 2003 e 2005, respectivamente.
No show que apresentou no The Town, Maria Rita quis mostrar aos dois tipos de público que não se afastou do samba e nem do jazz. E que a divisão é besteira.
Teve coragem e – finalmente – alterou o repertório que tem apresentado desde 2018, quando colocou na estrada, em diferentes formatos, o show <i>Samba de Maria</i>.
Anunciada pelo diretor artístico do The Town como "a maior cantora do mundo", Maria Rita entrou no palco Primo do Jazz, que fala que um dos ritmos mais populares do Brasil é "preto de olhos azuis".
Depois emendou três standard do jazz: <i>Lets Do It</i> e <i>Over The Rainbow</i>. <i>Meiga Presença</i>, samba-canção eternizado no vozeirão de Elizeth Cardoso, ganhou acento de jazz. Com isso, Maria Rita enalteceu Elizeth, cantora esquecida e colocada apenas como "agregada" da branca bossa nova, que também é prima do jazz, diga-se de passagem.
Verdade seja dita, Maria Rita já tinha misturado samba e jazz quando gravou <i>Cara Valente</i>, em 2003. Sucesso até hoje em seus shows, ele não é samba puro, assim como não havia pureza nos sambas gravados por sua mãe, Elis Regina – que, inclusive, fez um disco chamado <i>Samba eu Canto Assim</i>, de 1965, que é puro jazz.
Foi João Bosco que juntou <i>Smile</i>, sucesso de Nat King Cole, com o samba <i>O Bêbado e A Equilibrista</i>, que foi parar em <i>O Show Tem que Continuar</i>, sucesso do grupo Fundo de Quintal. A plateia do The Town se identificou mais com o segundo.
Assim como canta mais alto o samba <i>Sorriso Aberto</i>, de Jovelina Pérola Negra, que dividia o samba de forma bem particular. Uma jazzeira do subúrbio carioca.
Uma projeção no fundo palco misturava e igualava Jovelina, Elza Soares, Billie Holiday, Clara Nunes, Beth Carvalho, Nina Simone e Ella Fitzgerald. As artes eram do artista Senegambia.
"O (músico) J Moraes me falou, há muitos anos: você é desenvolta no samba porque ouvia jazz. Na época, não entendi muito bem", disse Maria Rita ao <b>Estadão</b>, depois de sua apresentação no The Town.
Ela diz que compreendeu melhor quando recebeu a música <i>Samba E Swing</i>, do compositor baiano que nota as semelhança entre samba e jazz. "Todos dois americanos", diz a letra. Ambos vindo da África. Nos Estados Unidos virou jazz. No Brasil virou samba. O banjo é um ponto em comum.
"Há uma mania horrorosa, me desculpa a arrogância, de colocar o jazz como elemento da alta cultura. Uma cafonice sem tamanho! E o samba, para alguns, é sambinha, cervejinha no fim de semana. Não é!", diz a cantora, enfática.
No ano em que completa 20 anos de carreira fonográfica Maria Rita ainda tem pela frente o desafio de agradar esse ou aquele público. O caminho pode estar no meio, assim como ela fez no The Town.
Alias, a turnê comemorativa de duas décadas – adiada para 2024 – deve passar exatamente pelo o que ela mostrou no show desta tarde.