Depois de cerca de 20 anos querendo fazer um trabalho com Marília Gabriela no teatro, o diretor Jorge Takla encontrou o que, para ele, era a peça ideal. Foi em 2012 que ele assistiu, na Broadway, em Nova York, à peça Vanya e Sonia e Masha e Spike, texto do americano Christopher Durang que estreia nesta sexta-feira, 6, no Teatro Faap.
“Quando vi a peça, pensei logo na Gabi”, diz o diretor, em referência à figura de Masha. “Ela junta todas as características que a personagem precisa.” O enredo conta a história de três irmãos. Vanya (interpretado por Elias Andreato) e a adotada Sonia (Patrícia Gasppar) moram juntos em uma casa de campo, levando uma vida pacata e desinteressante. Eles são sustentados por Masha, uma bem-sucedida estrela de cinema, que vive longe dali, mas aparece para fazer uma visita que pode mudar o rumo da vida de todos.
Takla conta que, em conversa com Durang, percebeu que era fundamental que o público já soubesse que se trata de uma estrela quando Masha entra em cena. “E Gabi é uma estrela, elegante, divertida, carismática.”
A atriz e jornalista lembra que, quando recebeu o convite de Takla, já estava comprometida com outro projeto teatral, mas resolveu ler o texto, a pedido do diretor. “Eu ria tanto, mas eu ria tanto, que minha secretária veio saber o que era”, lembra. Os impasses do projeto em que ela estava envolvida acabaram fazendo com que ela desistisse da ideia e entrasse no elenco de Vanya e Sonia…
As coincidências de Gabi e sua personagem não param nas características pessoais. Quando Masha chega para visitar os irmãos, ela vai acompanhada de seu novo namorado, o ator bobo e deslumbrado Spike (Bruno Narchi), quase 20 anos mais novo que ela. É ele que desperta em Masha as inseguranças em relação à sua idade. “Ah, os meus antecedentes!”, gargalha Gabi, quando indagada sobre a possível conexão que o público faria entre ficção e realidade, lembrando de um relacionamento que ela teve com um ator e modelo bem mais jovem. “É inevitável que as pessoas pensem, não há como não associar. Mas não é isso que eu percebo dela em mim. Acho que tem essa vocação para o drama, o espalhafato. Mas sei como essa relação se dá. Não tenho pudores e acho que a vida é assim. Quisera todo mundo vivesse sem suas amarras e limites ferozes”, afirma.
Completam o elenco a jovem aspirante a atriz Nina (Bianca Tadini), usada por Spike para fazer ciúmes em Masha, e a diarista Cassandra (Teca Pereira), que tem poderes de vidência e pratica vodu – a única atriz negra da trupe. “Na Broadway, era uma negra que fazia a personagem. É adequado: a Cassandra tem toda uma tradição afro. Não vejo nenhum problema nisso desde que a atriz também não veja problema”, diz Takla.
Uma das razões que levaram o diretor a montar o texto foram as referências que Durang faz a Anton Chekhov, como no nome dos personagens: Vanya e Sonia vêm de Tio Vânia e Masha aparece em As Três Irmãs. Takla montou Chekhov algumas vezes em sua carreira. “As situações que ele coloca são, ao mesmo tempo, absurdas e humanas”, ressalta ainda.
O espetáculo, no entanto, não quer ter a profundidade dos clássicos russos. A comédia tira gargalhadas da plateia com artifícios simples, como quando mostra parte do elenco vestindo fantasias da versão de Walt Disney para A Branca de Neve e os Sete Anões – destaque, aliás, para os figurinos, assinados por Theodoro Cochrane. De caráter bem realista, o cenário mostra uma perfeita casa de campo cercada de um jardim, dando pouco espaço para a imaginação do público. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.