Acusado ao lado de outros 26 dirigentes de formar um “grupo conspiratório” que usou torneios de futebol em vários países para enriquecer ilicitamente, o ex-presidente da CBF José Maria Marin tenta se livrar da companhia dos demais cartolas na Justiça dos Estados Unidos. Marin está em prisão domiciliar em Nova York desde 2015 e o início do julgamento dele e dos outros acusados está marcado para novembro.
O jornal O Estado de S.Paulo teve acesso a duas solicitações feitas por Marin à Justiça norte-americana pedindo a anulação da acusação de participação de “grupo conspiratório”, o equivalente a formação de quadrilha no Brasil, o que agravaria a sua pena. A lista de acusados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos inclui o presidente da CBF Marco Polo Del Nero e o ex-presidente Ricardo Teixeira.
Entre as justificativas apresentadas pela defesa de Marin está o fato de ele ter presidido a CBF por apenas três anos (de março de 2012 a abril de 2015), enquanto que a denúncia feita pelo Departamento de Justiça afirma que o esquema de corrupção comandado por dirigentes ligados à Fifa durou pelo menos 25 anos, a partir de 1991, período no qual foram cometidos vários crimes, entre eles o recebimento propinas e suborno nas negociações de contratos.
Teixeira antecedeu Marin na CBF e presidiu a entidade de 1989 a 2012 e Del Nero ocupa o cargo desde 2015. O atual presidente da CBF foi vice da entidade durante a gestão Marin.
O ex-dirigente também alega para a Justiça dos Estados Unidos que a acusação duplicada contra ele (quando há combinação de dois ou mais crimes) prejudica a sua defesa e pode causar incertezas em relação ao veredicto final. E mais: o júri pode confundir a sua conduta com a de outro réu e, assim, condená-lo injustamente.
O ex-presidente da CBF rebate a acusação de que havia uma estrutura entre várias confederações que interagiram para formar uma organização criminosa. Segundo Marin, as confederações agiam de forma independente e cada entidade detém os direitos de seus próprios torneios, sem nenhuma conexão entre si. “São braços independentes da Fifa”, alegou Marin em documento enviado à Justiça dos Estados Unidos.
De acordo com o ex-dirigente, a única competição organizada em conjunto por mais de uma confederação foi a Copa América Centenário, realizada no ano passado por Conmebol (América do Sul) e Concacaf (Américas Central e do Norte) nos Estados Unidos. Ele ainda aguarda uma resposta da Justiça aos seus pedidos.
CORRUPÇÃO – Marin é acusado de receber subornos e propinas em contratos de comercialização e direitos de marketing de torneios organizados pela Conmebol e a CBF. Ele, Del Nero e Teixeira teriam divididos R$ 2 milhões por ano de suborno pagos pela empresa Traffic. Em abril de 2014, Marin, por exemplo, teria viajado para Miami para participar de uma conferência de imprensa e teve uma reunião com J. Hawilla (dono da Traffic) para acertar os pagamentos da propina.
O ex-presidente da CBF está em prisão domiciliar em Nova York em seu apartamento localizado na 5.ª Avenida, no arranha-céu Trump Tower, em uma das regiões mais caras de Nova York. Marin pode sair de casa até sete vezes por semana desde que permaneça dentro de um raio de até duas milhas (o equivalente a três quilômetros) do prédio e esteja acompanhado por um segurança. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos também faz o monitoramento eletrônico de Marin através de tornozeleira.
Cabe ao ex-dirigente pagar a manutenção de câmeras de segurança instaladas na porta de seu apartamento e em todas as saídas do Trump Tower.