O medo de uma eventual vitória de Marina Silva nas próximas eleições presidenciais se manifesta de diferentes modos. Há aquele que se alimenta da ligação dela com os evangélicos. Eles têm uma bancada na Câmara Federal a serviço da defesa de bandeiras consideradas capazes de travar e até de fazer retroceder o avanço da democracia no Brasil. O vínculo com eles é visto como contraditório numa candidata que promete a modernização da atividade política do país.
Por isto, a Folha de São Paulo, lembrou no editorial de sua edição do dia 18 do mês passado: “Seu nome parece o mais identificado com o desejo de mudança, latente, mas poderoso, que as pesquisas de opinião têm constatado desde as maciças manifestações de protesto em junho do ano passado. Seu respaldo é maior nos setores que multiplicam influencia eleitoral: os mais jovens, os mais escolarizados e habitantes das grandes cidades brasileiras”. Depois de mencionar isto, o jornal indagou “Como combinar sua filiação evangélica com o liberalismo comportamental de tantos de seus simpatizantes?”
Outro tipo de medo da eleição da Marina se apoia na dificuldade de prever a diretriz que, se eleita, ela seguiria em sua política econômica. Este medo foi revelado em outra pergunta apresentada no mesmo editorial da Folha de São Paulo: “Como conciliar o anticapitalismo de muitos ambientalistas com o liberalismo econômico dos conselheiros da candidata?”.
Por fim, há um medo gerado pela suposta semelhança existente entre a atual ascensão política de Marina e, a de Jânio Quadros, no passado. Este medo ocupou toda a coluna de Ruy Castro na edição da Folha de São Paulo, na última quinta-feira. Ele os comparou: “Os personagens são iguais: carismáticos, messiânicos e, de propósito, mal-ajambrados. Vieram do nada e venceram às próprias custas – um se tornou deputado, prefeito e governador antes de se candidatar à Presidência; a atual foi deputada, ministra e senadora, e esta é a sua segunda candidatura. Por terem subido sem precisar de ninguém, não acreditam em conversas ou negociações – pelo menos, quando há alguém olhando. Julgam-se acima da política e, como são fenômenos eleitorais, espremem-se em siglas nanicas ou inexistentes, sabendo que os grandes partidos tentarão pegar carona em sua popularidade. Eleitos, tendem a virar as costas aos partidos que os adotaram e a governar à base de espasmos – imprevisíveis, destrambelhados e contraditórios”.
De sua parte, Marina reage acusando os adversários de empregarem o pânico como estratégia eleitoral, em vez de a enfrentarem com propostas sérias e convincentes capazes de atrair votos.
Difícil saber quem tem razão. Mas, não há dúvida, alguma coisa está fora da ordem – como na letra de Caetano Veloso – nestas eleições, desde a morte de Eduardo Campos. Parece que os parâmetros mais seguros pelos quais os eleitores poderiam se guiar desapareceram no acidente de avião em que ele morreu. A sensação, agora, é de insegurança na escolha de um candidato. Tudo parece improvisado.